Falta de acordo após conflitos com mortes no Norte do RS impede indígenas de voltarem a reservas

Conflitos já provocaram ao menos três mortes em reservas desde o ano passado. Dezenas de famílias deixaram as aldeias, e negociações seguem sem definição.

Conflitos em três reservas indígenas do Norte do Rio Grande do Sul já provocaram mortes e deixaram feridos, além de casas e carros incinerados. Em duas localidades, a situação persiste, uma vez que as negociações não encontram solução para os impasses que impedem dezenas de famílias a retornarem para suas aldeias.

Desde o segundo semestre de 2017 foram registrados conflitos violentos nas reservas do Ligeiro, em Charrua, e mais recentemente em Ventarra, em Erebando, e Votouro, em Benjamin Constant do Sul.

Em Erebango, que fica a 25 quilômetros de distância de Erechim, 15 famílias tiveram que deixar a aldeia, e estão acampadas em um barracão cedido pela prefeitura da cidade. Em Passo Fundo, 20 famílias de uma outra reserva ocuparam a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) na cidade há dois meses. Nesta semana eles foram notificados pela Justiça sobre a reintegração de posse.

Em Erebango, as 15 famílias estão acampadas no pavilhão, de forma improvisada, desde a sexta-feira (29). Eles pertencem a aldeia indígena da comunidade de Ventarra.

Famílias estão abrigadas em ginásio improvisado em Erebango (Foto: Reprodução/RBS TV)Famílias estão abrigadas em ginásio improvisado em Erebango (Foto: Reprodução/RBS TV)

Famílias estão abrigadas em ginásio improvisado em Erebango (Foto: Reprodução/RBS TV)

“Eles querem mais as terras lá, mandar, pagar advogado […] a gente sai para não fazer besteira, porque querem conflito. A gente corre, se a gente quisesse conflito ficava por lá mesmo”, afirma o vice-cacique da aldeia, Edivaldo Laurindo.

Mas o clima de tensão já dura alguns meses na reserva onde vivem 48 famílias. No final de abril um indígenas morreu e pelo menos oito casas foram incendiadas durante os conflitos.

A Prefeitura de Erebango tenta mediar o conflito para que as famílias possam retornar para a aldeia.

“É um lugar da comunidade, um barracão, para quebrar um galho, dá por uns dias. Mas creio que dará tudo certo, com conversa, com diálogo que estamos tendo com eles aqui, e com o pessoal da área indígena. Acredito que em poucos dias, se resolverá o problema”, afirma o prefeito de Erebango, Valmor Tomazini.

No entanto, o cacique Gilmar Sales Cristão afirma que nem todos que saíram são bem-vindos a voltar. Das 15 famílias que deixaram a reserva, seis não poderiam retornar.

“A gente fez documento, botou o Ministério Público, Funai […] a gente não quer essas pessoas de volta porque elas só criam desavença, briga”, afirma o cacique.

Já o vice-cacique da aldeia, Edivaldo Laurindo, afirma que eles querem segurança para voltar para casa.

Casa incendiada em reserva onde foram registrados conflitos (Foto: Reprodução/RBS TV)Casa incendiada em reserva onde foram registrados conflitos (Foto: Reprodução/RBS TV)

Casa incendiada em reserva onde foram registrados conflitos (Foto: Reprodução/RBS TV)

Funai ocupada em Passo Fundo

Já em Passo Fundo, 20 famílias estão acampadas na sede da Funai na cidade há quase dois meses. Eles são da reserva do Votouro. A Justiça determinou a reintegração de posse, mas autoridades municipais negociam uma solução para o problema.

Assim como em Erebango, eles deixaram a reserva por conta de conflitos entre as lideranças, que deixaram um morto e oito feridos.

Após uma reunião realizada na tarde de terça-feira (3) na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, foi determinado que os indígenas poderiam continuar na sede da Funai por mais um mês.

A Funais propôs deslocar as famílias para uma área do estado, próxima ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde já vivem outras famílias indígenas dissidentes, mas a proposta não foi aceita.

As lideranças da reserva do Votouro dizem também que só aceitam o retorno de cinco famílias, que também optaram por não retornar. Enquanto o impasse continua, novas audiências devem ser marcadas para negociar uma solução.

Indígenas pedem justiça após morte provocada por conflito em março (Foto: Reprodução/RBS TV)Indígenas pedem justiça após morte provocada por conflito em março (Foto: Reprodução/RBS TV)

Indígenas pedem justiça após morte provocada por conflito em março (Foto: Reprodução/RBS TV)

Situação mediada em Charrua

A situação é considerada mais tranquila na reserva do Ligeiro, em Charrua, onde lideranças entraram em acordo no final do ano passado. Os conflitos fizeram com que 400 pessoas deixassem a reserva.

Após a morte de uma pessoa que estava abrigada em um ginásio da cidade, a Polícia Federal chegou a realizar uma operação, com a prisão de oito pessoas. No entanto, as lideranças entraram em acordo em setembro do ano passado.

Carro foi incendiado na Reserva do Ligeiro, no Norte do estado, no final do ano passado (Foto: Reprodução/RBS TV)Carro foi incendiado na Reserva do Ligeiro, no Norte do estado, no final do ano passado (Foto: Reprodução/RBS TV)

Carro foi incendiado na Reserva do Ligeiro, no Norte do estado, no final do ano passado (Foto: Reprodução/RBS TV) 

Fonte: G1 Rio Grande d0 Sul