RS registra em 2017 maior número de homicídios em 10 anos, segundo Atlas da Violência

Dados de homicídios de negros, homicídios por arma de fogo e denúncias de homicídios de LGBTs também revelam aumento de casos. Estudo feito pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública considera registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.


— Foto: Diana Yukari/G1

De acordo com dados do Atlas da Violência, publicado nesta quarta-feira (5), o Rio Grande do Sul atingiu em 2017 o maior número de homicídios em 10 anos. Foram 3.316 registros, com taxa de 29,3 para cada 100 mil habitantes.

O relatório é feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.

No país, foram 65.602 pessoas assassinadas em 2017. O número indica o registro de 1.707 mortes a mais que o divulgado pelo próprio fórum em seu anuário. Trata-se do maior nível histórico de letalidade violenta intencional no país, que atingiu uma taxa de 31,6 mortes violentas para cada 100 mil habitantes.

“O que está acontecendo no Brasil é algo realmente estonteante e fora dos padrões mundiais. Poucos países se aproximam do Brasil em termos de taxa de homicídio”, afirmou Daniel Cerqueira, coordenador da pesquisa, em entrevista coletiva, realizada no Rio de Janeiro.

O Rio Grande do Sul aparece como oitavo estado com mais homicídios em 2017, atrás de Bahia (7.487), Rio de Janeiro (6.416), Ceará (5.433), Pernambuco (5.419), São Paulo (4.631) , Pará (4.575) e Minas Gerais (4.299).

A Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul disse que não irá se posicionar sobre os dados.

Homicídios no RS em 10 anos

  • 2017 – 3.316
  • 2016 – 3.225
  • 2015 – 2.944
  • 2014 – 2.724
  • 2013 – 2.322
  • 2012 – 2.382
  • 2011 – 2.077
  • 2010 – 2.085
  • 2009 – 2.242
  • 2008 – 2.380
  • 2007 – 2.199
 — Foto: Diana Yukari/G1

— Foto: Diana Yukari/G1

Mais dados

O número de homicídios de negros também aumentou no estado, segundo o Atlas. Foram 833 casos em 2017. Houve oscilação de 2007 a 2013. A partir de 2013, o número de mortes somente cresceu.

  • 2017 – 833
  • 2016 – 757
  • 2015 – 656
  • 2014 – 628
  • 2013 – 487
  • 2012 – 514
  • 2011 – 448
  • 2010 – 436
  • 2009 – 445
  • 2008 – 471
  • 2007 – 440

O estudo mostra um aprofundamento da desigualdade racial nos indicadores de violência letal no Brasil. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros (a soma de pretos e pardos, segundo a classificação do IBGE, utilizada também pelo sistema do Ministério da Saúde).

Os cinco estados com mais casos são Bahia (6.798), Ceará (4.905), Pernambuco (4.720), Rio de Janeiro (4.650) e Pará (4.144).

O número de mortes de mulheres teve uma pequena queda de 2016 para 2017 no Rio Grande do Sul, mas segue acima de 300.

  • 2017 – 302
  • 2016 – 308
  • 2015 – 284
  • 2014 – 250
  • 2013 – 210
  • 2012 – 247
  • 2011 – 202
  • 2010 – 227
  • 2009 – 225
  • 2008 – 219
  • 2007 – 193

São Paulo é o estado que aparece com mais mortes em 2017: 495. Antes do Rio Grande do Sul ainda estão Bahia (487), Rio de janeiro (401), Minas Gerais (388), Ceará (374), Pará (311), Pernambuco (310).

Já no dado que contabiliza homicídios de mulheres negras, é possível perceber que o ano de 2017 atingiu o maior número de mortes no RS em 10 anos: 61.

  • 2017 – 61
  • 2016 – 50
  • 2015 – 55
  • 2014 – 51
  • 2013 – 33
  • 2012 – 39
  • 2011 – 21
  • 2010 – 38
  • 2009 – 36
  • 2008 – 32
  • 2007 – 29

No país, Bahia aparece em primeiro como estado com maior número de mulheres negras assassinadas: 417. Ceará tem 325 registros, Pará tem 286, Minas Gerais, 261, e Rio de Janeiro, 260.

O estudo mostra que as negras representam 66% do total de mulheres mortas de forma violenta em 2017 no Brasil.

O Atlas incluiu pela primeira vez no relatório dados de violência contra a população LGBTI+.

Apesar de não haver dados do tamanho da população LGBTI+, já que o IBGE não faz nenhuma pergunta sobre orientação sexual, o Atlas usa dados do Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e dos registros administrativos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

O relatório mostra um aumento no número de denúncias de homicídios e tentativas de homicídio em 2017 no Brasil.

O Disque 100 analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos desde 2011. No último ano, diferentemente dos demais grupos, como idosos e crianças, houve crescimento de 127% de denúncias de homicídio contra a população LGBTI+.

O Sinan, que classifica a orientação sexual da vítima, registrou o país aumento de 10% a 15,7% de casos de violência contra homossexuais e de 30,9% a 35,3% contra bissexuais em 2015 e 2016.

Denúncias de homicídios de LGBTs no RS (anos com registros)

  • 2017 – 7
  • 2016 – 5
  • 2015 – 2
  • 2013 – 2

Os homicídios por arma de fogo também tiveram aumento. De 2013 a 2017, os casos somente aumentaram, após oscilações em anos anteriores.

Em 10 anos, foi em 2017 que ocorreram mais casos no RS.

  • 2017 – 2.591
  • 2016 – 2.507
  • 2015 – 2.282
  • 2014 – 2.055
  • 2013 – 1.714
  • 2012 – 1.737
  • 2011 – 1.531
  • 2010 – 1.496
  • 2009 – 1.645
  • 2008 – 1.801
  • 2007 – 1.661

Recorde de assassinatos por armas de fogo

O número de assassinatos por arma de fogo cresceu 6,8% entre 2016 e 2017 no Brasil, chegando ao patamar inédito de 47,5 mil mortes – ou mais de 70% dos homicídios registrados no ano.

Dos 27 estados, 13 tiveram aumento no número de mortes por arma de fogo. A maior alta foi registrada no Acre: 70%.

O Rio Grande do Sul registrou alta de 3,4% de 2016 para 2017. A variação de 10 anos de pesquisa, desde 2007, é de 56% no estado.

O coordenador da pesquisa defendeu que o Judiciário em sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal (STF), barre a flexibilização das armas.

“Se isso não acontecer, olhando a literatura científica internacional das últimas duas décadas, existe um potencial extremamente perigoso para o Brasil. Porque uma arma de fogo em circulação não pode causar um homicídio imediato, ou no ano seguinte. Se bem conservada, tem vida útil de até 50 anos. Muitos dos assassinatos de hoje são praticados com um ‘três oitão’ comprado na década de 80”, disse Daniel Cerqueira.

Fonte: G1