Queda de casos em outros países indica que pico da Ômicron no Brasil será em fevereiro

Em locais como África do Sul, Reino Unido e França, nova onda elevou média de mortes para um quarto do registrado no pior momento da covid-19 em cada nação

Em meio ao tsunami de casos de covid-19, especialistas olham para outros países a fim de compreender quando o pico de Ômicron chegará no Brasil. A experiência de nações que veem queda na transmissão indica que o ápice leva de quatro a seis semanas após o aumento das contaminações — portanto, o Brasil enfrentaria o pior momento entre a última semana de janeiro e a metade de fevereiro. 

A Ômicron foi identificada na África do Sul no fim de novembro e o ápice da curva de casos ocorreu cerca de um mês depois. Na França, no Canadá e na Austrália, foram necessárias cinco semanas e, no Reino Unido, seis. Hoje, o Brasil está na terceira semana de alta. 

O rápido avanço da Ômicron ocorre devido à altíssima transmissão – há indícios de que seja um dos vírus de maior infectividade da história. Por consequência, a covid-19 atinge mais pessoas em menos tempo e acabam sobrando poucos indivíduos suscetíveis a se contaminar, explica a epidemiologista Suzi Camey, integrante do Comitê Científico do Palácio Piratini.

— Se o comportamento da curva seguir como nas últimas semanas, até a primeira metade de fevereiro deve começar a cair o número de infectados. Mas os números têm mostrado que é possível que haja esgotamento hospitalar (no Rio Grande do Sul). Todo dia, entre 60 e 70 leitos clínicos são ocupados e entre 10 a 12 leitos de UTI, sem folga — pontua Camey. 

Nos Estados Unidos, a Ômicron quebrou o recorde de internações, que dobraram em apenas três semanas — dados hospitalares mostram que a entrada na emergência é quase na totalidade de pessoas não vacinadas. No Rio Grande do Sul, o nível de ocupação hospitalar já é o maior desde julho do ano passado.

Governos e analistas também temem grande aumento de mortes no Brasil – já há crescimento no uso de leitos clínicos, destinados a casos graves, e intensivos, para casos gravíssimos. Além disso, a Ômicron gerou nova onda de vítimas em todas as nações, sobretudo de indivíduos sem vacinação em dia. 

O médico Fabiano Ramos, chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), observa que, em diversos países, a Ômicron elevou o número de mortes diárias por coronavírus para entre um quarto e um sexto da média registrada no ápice da covid-19 em cada nação. 

— Possivelmente, possamos chegar a cerca de um quarto das vítimas, se a curva se mantiver como em outros países. Não acho que teremos colapso hospitalar, mas teremos dificuldade no atendimento pré-hospitalar. Há várias influências para isso, incluindo o nível de vacinação em cada país e nossa falta de testes — diz Ramos.

Dados do Our World in Data indicam que Reino Unido, Austrália, África do Sul e França chegaram justamente a um quarto da mortalidade do ápice — muitas dessas nações impuseram restrições à população. Atualmente, as mortes ainda crescem ou não baixaram – são o último indicador a reduzir, uma vez que refletem a transmissão de três semanas antes.

O Reino Unido chegou a uma média de 268 mortes por dia, maior nível desde o início de março do ano passado, mas distante do pior momento da epidemia, quando em média 1.250 pessoas perdiam a vida todos os dias. Na França, morrem hoje em média 225 pessoas por dia por coronavírus — no pior momento, eram cerca de 970.

Na África do Sul, o aumento de mortes foi proporcional ao de nações com alta cobertura vacinal: a Ômicron elevou para 132 a média móvel de mortos diários por coronavírus — no ápice da doença, eram cerca de 580 vítimas diárias. No Canadá, a média é de cerca de 120 óbitos diários, contra aproximadamente 190 no ápice.

O médico infectologista Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que esta nova onda atinja um pico 1 mil mortes por dia – patamar alto, mas distante de março e abril, quando o Brasil registrou 4,2 mil vítimas em um único dia. Se o raciocínio fosse aplicado ao Rio Grande do Sul, seria esperada uma média de 78 vítimas diárias – no pico, eram 313.

Há particulares brasileiras, todavia, que podem alterar a expectativa: o apagão de dados do Ministério da Saúde dificulta entender de fato quando houve o início da curva; o Brasil testa muito pouco, o que favorece mais pessoas se contaminarem sem saber; a grande cobertura vacinal em alguns Estados e baixa, em outros; além da presença do Carnaval, que poderá elevar ainda mais a transmissão entre a população.

— Essa doença também é comportamental, porque depende dos cuidados das pessoas. É de esperar que o pico seja realmente de quatro a seis semanas, conforme os outros países, e depois uma queda acentuada. Mas o Carnaval pode afetar. Teoricamente, até lá estaríamos em queda de casos. Mas, se as pessoas facilitarem, a curva pode recrudescer, sem dúvida. Inclusive, convém salientar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) acena com a possibilidade de novas variantes — destaca Paulo Petry, professor de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Entre as medidas citadas para controlar o avanço da Ômicron, estão aumento da oferta de testes gratuitos, incentivo à vacinação, redução de aglomerações e busca por ambientes arejados. 

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/