Quarentena reduz em 22% a poluição do ar em Porto Alegre

 Foto: Luciano Lanes/Arquivo PMPA

De acordo com pesquisadores do Porto Ar Alegre, diminuição do tráfego de veículos e também de aviões contribui para a redução na poluição.

A quarentena e o isolamento social devido à pandemia de Covid-19 reduziram em 22% a poluição do ar em Porto Alegre, segundo uma pesquisa do projeto Porto Ar Alegre, do Pacto Alegre.

O projeto mediu as concentrações das partículas em dois períodos, entre 16 de fevereiro e 15 de março (antes do isolamento) e entre 16 de março e 14 de abril (durante o isolamento). A pesquisa apresentou que houve uma redução das partículas com 2,5 micrômetros, que são as mais nocivas para a saúde.

Segundo a coordenadora do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Ufcspa), Cláudia Rhoden, a partícula é extremamente pequena e não há mecanismos de expelir. O poluente é originado da queima de combustíveis, de carros, ônibus, aviões e também fontes industriais.

“A gente inala esse pó e o pulmão absorve a partícula. E ele circula no sangue e chega em vários locais do organismo”, explica Cláudia.

“É um material mais fino que a gente não enxerga como pó. Mas que penetra os alvéolos, os vasos e prejudica a saúde” complementa a professora aposentada da faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Olga Pocenti.

Olga afirma que qualquer diminuição no nível é importante.

“Tem estudos que mostram que um ponto de diferença faz muita diferença em termos ate de morte por infartos, por acidente vascular cerebral. Qualquer nível desta partícula 2.5 é nociva para a saúde.

A coordenadora do Laboratório de Poluição afirma que a redução já é significativa.

“22% parece que é uma coisa pequena, mas é bastante. Isso já traz um impacto sobre a saúde. De diminuição de adoecimento, principalmente quando a gente pensa na população de risco, como idosos e crianças. Essa magnitude de 22% é importante sim. Já coloca um grau de exposição bem menor”, diz Cláudia.

O coordenador Pacto Alegre e diretor da Escola de Engenharia da Ufrgs, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, ressalta que a diminuição do número de carros nas ruas é o que gera maior impacto na diminuição dos poluentes.

“Foi muito impactante. O isolamento e a redução do fluxo de veículos mostram rapidamente, como o trânsito impacta direto na qualidade do ar. Que a gente reduzindo o fluxo de veículos, a gente melhorou muito a qualidade do ar. Isso se expressaria em muito menos impacto na saúde das pessoas.”

Além da melhora na qualidade do ar, a redução do poluente impacta na saúde e na qualidade de vida da população.

“Pode significar melhoria na questão de saúde da população. No momento em que há diminuição da exposição, eu possivelmente vou diminuir taxa de consulta médica por rinite, por asma, primeiramente por essas condições respiratórias. Em efeitos crônicos, há desde alteração de memória, no aprendizado das crianças. Sabemos que o poluente é um poluente que traz agravamento no organismo como um todo, não só no trato respiratório”, explica Cláudia.

A coordenadora afirma que pessoas que moram em cidades com níveis de poluição maior, podem apresentar quadros mais graves do coronavírus.

“Já tem trabalhos mostrando que agora durante o coronavírus, que locais onde se tem uma poluição maior, tem mais mortalidade de indivíduos que foram acometidos pelo coronavírus. A pessoa viver em um ambiente poluído ela vai ter problemas em função do ar que respira. A pessoa que mora em uma cidade poluída, ela possivelmente vai está desenvolvendo efeitos mais graves na exposição desse vírus, quando comparado alguém que não vive em um ambiente poluído. O sistema respiratório já está de certa forma sendo agredido pela poluição, então ele se torna mais sensível.”

A análise do ar foi feita pelos cinco monitores da qualidade do ar do Porto Ar Alegre, que fica em Unidades de Saúde dos bairros Rubem Berta, Santa Cecília, Centro Histórico, Humaitá e Restinga. Os sensores foram adquiridos através de um financiamento coletivo público.

“Instalamos no ano passado e estamos coletando dados muito interessantes. Os monitores começaram a mostrar que são muito sensíveis, detectam incêndios de lixo na cidade, até churrascos. Conseguimos detectar os dias que tem mais churrasco porque tem mais particulados no ar. Assim como são muito sensíveis à poluição dos veículos”, aponta Luiz Carlos.

O objetivo é contar com mais sensores em outros bairros da cidade. Para mapear efeitos localizados em cada um dos bairros.

Mobilidade

Para os membros do Porto Ar Alegre, é um momento também de repensar as questões de mobilidade urbana nas cidades.

“Isso mostra também como é importante começar a pensar em políticas de redução dos veículos, usar mais veículos elétricos, usar mais transportes públicos. Tem muito impacto na saúde. Se a gente conseguir medir os impactos, para as pessoas, em questões de risco de vida, e para o sistema, porque mais pessoas vão ter doenças respiratórias e precisar de atendimento, certamente seria economicamente inteligente reduzir as emissões do ar”, salienta Luiz Carlos.

“Tomara que leve a questionamento dos nossos gestores. Porque isso mexe com mobilidade urbana, qual tipo de modal de transporte seria mais indicado, carros elétricos, metrô. Nos leva a várias reflexões. Como se sabe, essa poluição do ar é um problema de saúde publica. De repente, precisamos tirar lições de coisas ruins que nos acontecem. Essa questão do isolamento nos trouxe um “benefício” para essa qualidade do ar. Podemos melhorar a qualidade do ar sem isolamento? Claro que sim. Mas também precisa da conscientização das pessoas”, ressalta Cláudia.

Fonte: https://g1.globo.com/