A Polícia Civil deflagrou no começo da manhã desta quarta-feira a operação Trapaça com o objetivo de desmantelar um grupo criminoso que lesou mais de 4 mil vítimas com um sistema de falsos investimentos altamente lucrativos. Os prejuízos superam a cifra dos R$ 20 milhões. Ao menos 11 golpistas já foram identificados. Havia células no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, sendo utilizados aplicativos bem elaborados para smartphones.
A ação foi coordenada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Luiz Gonzaga, sob comando do delegado Heleno dos Santos, e pela DP de Santo Antônio das Missões, conduzida pelo delegado Gerson de Assis. Cerca de 150 agentes cumpriram 11 mandados de prisão temporária, 21 mandados de busca e apreensão em residências, 19 mandados de busca e apreensão de veículos, bloqueio em contas bancárias e de imóveis de 11 pessoas físicas e três pessoas jurídicas.
No RS, as ordens judiciais concentraram-se em Santo Antônio das Missões. Em SC, os mandados foram executados em Tijucas, Porto Belo, Balneário Camboriú, São Lourenço do Oeste e Itapema. Em SP, o trabalho policial ocorreu na capital paulista, onde foram apreendidas duas armas de airsoft, um tablet, um notebook e dois telefones celulares. O delegado Heleno dos Santos informou que oito prisões foram efetuadas e restavam ainda três foragidos.
A investigação começou após o aparecimento de várias vítimas para reclamarem que uma empresa prometia investimentos no mercado de ações com altos ganhos. Ela foram atraídas a integrarem grupos virtuais de “investimentos financeiros muito lucrativos, geridos a partir de uma plataforma digital de investimentos on-line, denominada Genesis.vet. O nome foi copiado em parte de uma empresa regular do ramo financeiro, que não tem relação nenhuma com os criminosos.
O golpe começava a partir do momento em que a vítima era convidada a fazer o upload do aplicativo Genesis.vet para o seu smartphone, cadastrando em seguida os dados pessoais e anexando documentos. Na sequência, a vítima acabava recebendo um link para aderir a grupos de WhatsApp, denominados Águia”, Águia Vip e New Invest, onde recebiam orientações de como fazer os investimentos. Havia inclusive uma pressão para investirem rapidamente, pois os “consultores” recebiam “informações privilegiadas” de momentos ideais e geralmente curtos para investimentos altamente rentáveis.
Os golpistas mesclavam o uso de aplicativos legítimos com o uso de aplicativo falsos. Havia ainda a utilização regular de aplicativos para a conversão de moeda estrangeira, que culminavam com a transferência de quantias variadas em dinheiro para os criminosos, via PIX, TED ou boletos, todos gerados a partir de uma plataforma também regular. O esquema fazia parecer que as transações eram feitas sempre a partir de sites e aplicativos seguros.
O esquema ilícito era consumado quando as vítimas usavam os códigos PIX e boletos, acreditando que estavam realmente fazendo investimentos, mas apenas transferiam os valores diretamente para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas localizadas no exterior.
Apesar de não terem nenhuma formação na área financeira, os golpistas geralmente se utilizavam de linguagem técnica normalmente utilizada por corretores de investimentos e consultores financeiros, sempre aparecendo em vídeos e imagens postadas nos grupos de WhatsApp como figuras bem-sucedidas, enaltecendo os retornos financeiros excepcionais e rápidos da plataforma Genesis.vet. Em algumas vezes exibiam veículos e bens variados supostamente adquiridos com os altos e falsos retornos.
Nos grupos de WhatsApp, os golpistas usavam de táticas persuasivas, com promessas de lucros garantidos, oportunidades exclusivas e supostas informações privilegiadas altamente rentáveis. As oportunidades para investimentos geralmente surgiam subitamente e o prazo para fazer as transferências sempre era curto.
Ao menos três empresas de fachada foram criadas pelos golpistas para o desvio do dinheiro obtido das vítimas. Eles também criavam sites falsos, geralmente em provedores do exterior, que pareciam legítimos, para onde as vítimas eram atraídas com promessas de altos ganhos.
Os suspeitos criaram até uma pessoa fictícia, de nome Kelly, que seria a chefe da empresa Genesis.vet. Em mensagens e áudios postados no grupos de WhatsApp, os golpistas investigados agradeciam a Kelly pelos altos retornos obtidos e bens adquiridos.
Algumas vítimas recentemente perceberam o golpe e efetuaram questionamentos. Os estelionatários alegaram nessas situações que a empresa estaria ingressando no mercado de ações e que, na fase de abertura de capital, ocorreu a impossibilidade de saques pelos investidores pelo fato de estar sendo feita uma auditoria.
“Os criminosos investigados ostentavam aquisições de bens, principalmente veículos, em grupos de investimentos e redes sociais, sempre com o objetivo de convencer mais pessoas a aderirem ao programa fraudulento de investimentos que operavam. Muitas vezes os golpistas ainda alugaram luxuosas salas comerciais e de reuniões, simulando reuniões de trabalho, de modo a conferir maior credibilidade ao golpe”, explicou o delegado Heleno dos Santos.
Já o delegado Gerson de Assis pediu que novas vítimas façam a queixa policial, deixando de lado o medo ou até vergonha de procurar a Polícia Civil. “O registro de ocorrência policial é um valioso instrumento de prova para a devida responsabilização criminal dos golpistas, possibilitando, ainda, o ressarcimento mais rápido e efetivo das vítimas”, frisou.
Fonte: correiodopovo.com.br
Comments Closed