Mães vacinadas contra Covid-19 têm grande probabilidade de transmitir proteção aos bebês

Caso ocorrido em Santa Catarina está sendo estudado por cientistas da medicina

 Foto: Arquivo pessoal / Divulgação /

A notícia de que um bebê nasceu em Santa Catarina com anticorpos contra a Covid-19 trouxe empolgação a muitos outros pais com a proteção proporcionada pela vacina aplicada na mãe da criança. A médica Talita Menegali, que trabalha em um posto de saúde em Tubarão, no sul do Estado vizinho, tomou a primeira dose da vacina Coronavac em fevereiro, ainda com 34 semanas de gestação, e a segunda já em março. No dia 11 de abril, nasceu o menino Enrico. No segundo dia de vida do garoto, ele foi testado, e o exame deu positivo para anticorpos contra a doença. Ainda é preciso aprofundar estudos a respeito de como se dá essa transmissão de anticorpos e quanto tempo ela dura, mas a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs) aponta que é grande a chance de que outros bebês recebam de suas mães, a proteção contra o novo coronavírus.

Talita disse que a decisão de tomar a vacina foi tomada por ela, o marido e o obstetra, já que mesmo durante boa parte da gestação, ela atuava na linha de frente contra a doença em uma unidade do município catarinense de cerca de 100 mil habitantes. “A decisão de verificar os anticorpos surgiu depois que vimos que uma criança nos Estados Unidos, nascer com a imunidade”, recorda a médica. Depois que ela tomou a Coronavac, Talita disse nada ter mudado, mesmo grávida. “Não tive nenhum efeito colateral. Nasceu superbem”, relata.

No segundo dia de vida, Enrico coletou sangue para o exame. A jornada da mãe e do filho, acabou se tornando um “relato de caso”, um tipo de artigo científico, sob as mãos do irmão e mais três especialistas da medicina. Algo que fez o caso ganhar repercussão após o secretário de Saúde do município ter tido acesso aos resultados e revelá-lo à mídia local. “Mandei meu exame para o secretário de saúde e para ter certeza da positividade, aí três pesquisadores resolveram fazer um relato de caso. Fiz isso para incentivar outras gestantes a se vacinarem, mostrar que não há problema”, destaca Talita.

De acordo com o médico Valentino Magno, membro da Sogirgs e membro da Comissão de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), diz que há muitos estudos, a maioria com a Pfizer, que mostram que as mães vacinadas produzem imunoglobulina, um tipo de anticorpo presentes no leite materno por até 20 dias, no mínimo. “Nos primeiros 20 dias, pós-vacina, a mulher produz um tipo de imunoglobulina que são excretados em grande quantidade no leite materno. Se a mãe estiver amamentando, existe uma chance enorme de imunização de recém-nascidos por passagem de anticorpos, em um processo chamado de soroconversão”, confirma.

Talita também reconhece que são necessários ainda muitos estudos sobre a imunidade de seu filho. Para isso, ela pretende testar a presença de anticorpos quando o menino completar três meses de idade e aos seis meses, além de ver se está sendo passado pelo leite materno. Segundo Magno, além do leite, os anticorpos podem estar sendo transmitidos ainda na barriga, já que há alguns estudos apontando que já foram encontradas estas células no sangue do cordão umbilical. “Estes recém-nascidos vão ter estes anticorpos detectados, mas não temos nenhum estudo, do quanto a mais eles estão protegidos, até porque foi uma população que não teve um risco tão aumentado de infecção pela Covid-19”, detalha o médico.

Apesar da maioria dos estudos envolverem a vacina da Pfizer, Magno acredita que outros imunizantes podem produzir as mesmas respostas imunológicas nas mães e puérperas, assim como a própria contaminação pelo vírus. “As mulheres que foram infectadas por Covid-19, elas produzem anticorpos e eles são transmitidos no cordão umbilical. Não é o vírus, são os anticorpos. Por vacina, muito provavelmente também são detectados e passados para o feto também. Tudo indica que o nenê acaba tendo o benefício”, conclui.

Fonte: https://www.correiodopovo.com.br/