Investigação sobre surto de toxoplasmose em Santa Maria será acompanhada pelo MPF Já são 271 casos confirmados da doença; fonte da contaminação ainda não foi identificada. Orientação é para que mulheres evitem engravidar.

Diante das dúvidas e da proporção do surto de toxoplasmose em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento administrativo para acompanhar o trabalho que está sendo feito pelos órgãos de saúde na cidade. A ideia é centralizar as informações e buscar em conjunto novas alternativas para identificar a origem da doença. A fonte da contaminação ainda não foi identificada.

A medida foi tomada após um grupo de médicos infectologistas divulgar uma nota. No texto, eles demonstram preocupação com o avanço da doença e a forma como as informações estão sendo divulgadas, principalmente, com os cuidados que a população deve ter ao consumir água da torneira e alimentos de origem animal e vegetal.

“Nós estamos aqui para aquilo que eles não conseguirem buscar administrativamente, que a gente possa de alguma forma auxiliá-los”, explica a procuradora da república Bruna Pfaffenzeller.

Já são 271 casos confirmados da doença, segundo dados do último boletim, apresentado na última sexta-feira (11). Desses, 24 são gestantes. Elas fazem parte do grupo de risco, pois a toxoplasmose pode comprometer o desenvolvimento do feto e até levar ao aborto.

Duas mortes fetais ainda são investigadas. O coordenador da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, Roberto Shorn, informou que os dois fetos estavam com toxoplasmose. No entanto, não é possível confirmar a causa da morte. Por isso, a orientação é que a gravidez seja evitada durante o surto.

As autoridades de saúde consideram o surto de toxoplasmose em Santa Maria o maior já enfrentado no estado.

O ambulatório de oftalmologia que recebe pacientes com toxoplasmose e os que funcionam no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) devem abrir nesta sexta-feira (18). Por causa da alta procura por atendimento, o governo do estado autorizou o pagamento para a realização de mais exames aos 10 laboratórios que já prestam serviço ao município.

Laudos sobre a água

O estado já pediu ao Ministério da Saúde materiais para fazer novas coletas de água. As 20 amostras que foram analisadas pela Universidade Estadual de Londrina tiveram o resultado negativo quanto à presença do DNA de Toxoplasma gondii, protozoário que causa a doença.

No entanto, os dados se referem apenas a um período específico. Assim, o resultado não é considerado totalmente conclusivo.

Desta forma, é mantida a orientação para que a comunidade siga bebendo água mineral ou fervida, evite alimentos crus e malpassados e lave bem alimentos crus, como legumes e verduras.

“Para as populações mais vulneráveis, como as gestantes, os imunodeprimidos e crianças abaixo de dois anos, não discute. É água fervida. Está proibida a ingestão de carne crua. Alimento tem que ser bem cozido”, reforça a infectologista Jane Costa.

Orientação é que se lave bem alimentos crus, como legumes e verduras (Foto: Reprodução/RBS TV)Orientação é que se lave bem alimentos crus, como legumes e verduras (Foto: Reprodução/RBS TV)

Orientação é que se lave bem alimentos crus, como legumes e verduras (Foto: Reprodução/RBS TV)

Toxoplasmose

A toxoplasmose, cujo nome popular é doença do gato, é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. Este protozoário é facilmente encontrado na natureza e pode causar infecção em grande número de mamíferos e pássaros no mundo todo.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, a doença pode ocorrer pela ingestão de oocistos [onde o parasita se desenvolve] provenientes do solo, areia, latas de lixo contaminadas com fezes de gatos infectados; ingestão de carne crua e mal cozida infectada com cistos, especialmente carne de porco e carneiro; ou por intermédio de infecção transplancentária, ocorrendo em 40% dos fetos de mães que adquiriam a infecção durante a gravidez.

Sintomas

Em alguns casos os sintomas não se manifestam, mas podem ser:

  • Febre;
  • Cansaço;
  • Mal estar;
  • Gânglios inflamados.

O período de incubação da toxoplasmose vai de 10 a 23 dias quando a causa é a ingestão de carne, e de 5 a 20 dias quando o motivo é o contato com cistos de fezes de gatos.

Prevenção

A Sociedade Brasileira de Infectologia lista algumas medidas de prevenção:

  • Não ingerir carnes cruas ou malcozidas;
  • Comer apenas vegetais e frutas bem lavados em água corrente;
  • Evitar contato com fezes de gato. As gestantes, além de evitar o contato com gatos, devem submeter-se a adequado acompanhamento médico (pré-natal). Alguns países obtiveram sucesso na prevenção da contaminação intrauterina fazendo testes laboratoriais em todas as gestantes;
  • Em pessoas com deficiência imunológica a prevenção pode ser necessária com o uso de medicação dependendo de uma análise individual de cada caso.

 (Foto: Arte/G1) (Foto: Arte/G1)

(Foto: Arte/G1)

 Fonte: G1 Rio Grande do Sul