Governo do RS fecha parceria com Conselho de Veterinária para garantir estoque de medicamentos para pacientes com covid-19 hospitalizados

Hospitais relatam que remédios chegaram a subir 10 vezes o preço em comparação com período anterior à pandemia

A alta no preço e a baixa oferta de medicamentos sedativos levou a Secretaria Estadual da Saúde (SES) a buscar em clínicas e hospitais veterinários os remédios para aplicar nos pacientes que necessitam de intubação em função de quadro grave de covid-19. A pasta e o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) firmaram parceria para que os estoques de clínicas animais sejam repassados para os hospitais que estão em falta. 

A SES garante que os medicamentos sedativos possuem prescrição humana e animal liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A lista conta com propofol, midazolam, diazepam, fentanilas, lidocaína e opióides, como metadona e morfina. 

O presidente da Sociedade Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul, Wagner Nedel, esclarece que essas drogas são testadas e avaliadas anteriormente, garantindo a segurança na aplicação:

— É a mesma substância, mesmo composto, feito com mesmo cuidado industrial e que foi adequadamente testada em humanos e animais. Por exemplo a ivermectina, que está popular agora, tem uso veterinário consagrado.

Segundo a SES, a parceria prevê que “medicamentos em estoques de clínicas e hospitais veterinários que não fizerem falta imediatamente para o atendimento de pets possam ser repassados para hospitais que estão necessitando”. 

Para a parceria, o CRMV começou a produzir um inventário dos estoques presentes nas instituições veterinárias e abriu um canal digital de acesso adesão e disponibilização dos itens. As clínicas poderão se inscrever no site do conselho

Ainda de acordo com a SES, após o uso, os hospitais devem repor os itens, através de contrato. A medida adotada pelo Executivo foi inicialmente implementada pelos municípios de Canoas e Novo Hamburgo, em função da falta de sedativos.

GaúchaZH questionou a Secretaria da Saúde sobre quando os hospitais irão começar a receber os sedativos, quais serão priorizados e a lista das casas de saúde com situação mais crítica devido à falta de sedativo. Foi perguntado ainda se  a falta dos anestésicos segue sendo o “problema número um” a ser enfrentado, como afirmou a secretária Arita Bergmann em entrevista na última sexta-feira (3). Não houve resposta para esses questionamentos. 

Apesar de parceria, situação é crítica

Mesmo com o anúncio da parceria pelo governo, a falta dos sedativos no mercado e o sobrepreço nas cotações preocupam os hospitais. Muitos suspenderam cirurgias eletivas para guardar os analgésicos para os casos mais graves. 

No Hospital Viamão, o diretor executivo Leandro Gomes dos Santos detalha que os medicamentos chegaram a subir 10 vezes o preço em comparação com o período anterior à pandemia. 

 — Os valores subiram muito, são exorbitantes. Um dos medicamentos nós pagávamos R$ 6 em março e agora nos cobraram R$ 69, à vista. Compramos, não podemos deixar as pessoas sem medicamentos, mas é uma situação crítica, que nos preocupa muito — revela o diretor. 

Santos ainda informa que o hospital vem recebendo medicamentos também da rede Instituto de Cardiologia, da qual faz parte. O grupo explicou que fez um “estoque único” para trocar medicamentos entre os hospitais em função da demanda.

Prefeitos de municípios do Interior também relataram situação semelhante ao presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Maneco Hassen. De acordo com ele, a cada dia aumentam os relatos e a preocupação. 

 — Imagina uma UTI sem anestésico? Não tem como intubar uma pessoa sem o medicamento. É uma preocupação enorme — desabafa. 

Na Famurs, até o momento, não houve relato de falta de medicamentos — mas os estoques estão em alerta:

 — Se não houver uma reposição forte, logo em seguida vai faltar.

Devido ao problema, os hospitais promovem um malabarismo para conseguir medicamentos. A Santa Casa de Rio Grande importou os medicamentos diretamente do Uruguai para não faltar os sedativos. A SES informou que também começou a tratar com o governo daquele país para tentar adquirir. 

A Secretaria Estadual da Saúde também informou que as coordenadorias regionais de saúde estão em contato com os hospitais de suas regiões para tentar facilitar as trocas entre hospitais. Além disso, aguarda o Ministério da Saúde fazer um pregão, na qual está habilitada, para comprar e distribuir os medicamentos aos hospitais. Por  fim, afirma que  espera que o governo federal envie alguma remessa de sedativos. 

Em nota, o Ministério da Saúde disse que Estados e municípios podem demonstrar interesse em aderir ao pregão até a próxima segunda-feira (13). “Após este prazo serão identificados os interessados em fornecer os insumos e quem aderiu à modalidade poderá realizar a aquisição dos medicamentos. Todo o processo deverá levar cerca de 15 dias, após o encerramento do prazo de adesão”.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/