Facção envolvida em tráfico e execuções de rivais em Porto Alegre é alvo de ação no Vale do Sinos

Foto: Jorge Felipe / PC / Divulgação / CP

A Polícia Civil deflagrou a operação interestadual Fratelli ao amanhecer desta quarta-feira contra a facção do Vale do Rio dos Sinos, envolvida no tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e na execução de rivais em Porto Alegre. A organização criminosa mantém inclusive elo de ligação com a facção paulista. A dissimulação do capital oriundo do narcotráfico ocorria através da compra de bens, como veículos, imóveis e até uma pousada catarinense, além de aplicar os valores ilícitos em diversos setores da economia formal.

Houve o cumprimento de 173 ordens judiciais em 10 cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, resultando em um prejuízo ao crime organizado de ao menos R$ 30 milhões. A execução de 45 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva, 125 ordens de bloqueios bancários e 23 indisponibilidades de imóveis ocorreu em Porto Alegre, Canoas, Sapucaia do Sul, Novo Hamburgo, Campo Bom e Charqueadas, no RS, e ainda em Itajaí, Itapema, Balneário Camboriú e Bombinhas, em SC.

A ação foi coordenada pela 4ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (4ª DPHPP) de Porto Alegre, sob comando do delegado Marcus Viafore. Cerca de R$ 27 mil em dinheiro, telefones celulares, documentos, mídias, fuzis e veículos foram recolhidos.

A investigação apontou inclusive que o grupo criminoso chegou a obrigar os moradores de uma comunidade para que pagassem por um asfaltamento, com o intuito de melhorar a recepção dos usuários que chegavam de carro, sendo que os traficantes foram agressivos com os moradores.

Conforme o delegado Marcus Viafore, o trabalho investigativo durou dois anos e começou em 2021 após um homicídio tentado perpetrado pelo líder da organização criminosa contra dois indivíduos que agenciavam clientes para escritório de advocacia. “A razão do crime foi o suposto pagamento a menor feito aos agenciadores por parte do mandante, o qual, cobrado a complementar os valores de pagamento a advogado, decidiu matar os intermediários” explicou o delegado Marcus Viafore. 

Ele detalhou que o líder dessa célula da organização, que já tem dez indiciamentos por homicídio e outros quatro pelo delito de tráfico de drogas, havia sido preso em um resort na Praia do Forte, na Bahia, em 2021. Atualmente, o criminoso cumpre pena na Penitenciária Modulada de Charqueadas. “Em uma mensagem de texto, o indivíduo ostenta que possuiria, só em um local, mais de 30 apartamentos, fazendo isso para demonstrar seu poderio econômico”, observou.

Em 2022,a facção mandou de forma ameaçadora e agressiva que os moradores de uma comunidade na zona Sul de Porto Alegre pagassem por um asfaltamento, para melhorar a recepção dos usuários que lá iriam de carro, sendo que os traficantes foram agressivos com os moradores. O asfaltamento aconteceu e está ainda sob investigação.

Em relação ao esquema de lavagem de dinheiro, o titular da 4ª DPHPP afirmou que havia um núcleo familiar, coordenado pela companheira do líder, a qual colocou diversos veículos e imóveis em nome de laranjas, bem como guardar dinheiro em espécie. Existia também um núcleo de pessoas da comunidade, coordenado pela mesma mulher, em que pessoas que residem ou moraram na localidade em que o líder exerce   influência, serviriam de laranjas para titularizarem bens oriundos de capital ilícito.

Por fim, um outro núcleo responsável pela aquisição de automóveis e imóveis, inclusive uma pousada no litoral catarinense, por meio de interpostas pessoas, administrados por gerentes e pela companheira do líder. “Também movimentariam recursos financeiros espúrios pelo sistema bancário e em empresas de fachada. Uma das empresas suspeitas, que atuaria no ramo imobiliário, apenas entre os meses de agosto de 2020 a março de 2021, recebeu aproximadamente R$ 1,3 milhão em créditos, sendo R$ 1 milhão em dinheiro em espécie. Mais da metade desse valor foi depositado por membros da facção”, esclareceu. “Importante destacar que os laranjas em questão não tem renda declarada compatível para a aquisição dos bens e muitos estão envolvidos diretamente com o tráfico de drogas”, acrescentou

Conforme o diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Mario Souza, trata-se  de uma grande movimentação investigativa e de força policial integrada com as demais instituições. “Chamam a atenção as ameaças do crime organizado quando tentaram obrigar moradores a pagar um asfaltamento próximo aos pontos de tráfico da facção. A repressão patrimonial às organizações criminosas visa justamente enfraquecê-las, de modo a diminuir seu potencial de cometer crimes letais intencionais contra a vida”, afirmou.A operação contou com a atuação da equipe tática da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil, tendo apoio também da Brigada Militar e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), além da Polícia Civil de Santa Catarina.

Fonte: correiodopovo.com.br