Dólar teve uma tarde relativamente tranquila e fecha o dia a R$ 4,08

Amparado por papéis da Petrobras, Ibovespa fecha em alta de 0,17%


Moeda americana teve leve alta de 0,07% | Foto: Marcello Casal jr / Agência Brasil / CP

A disparada das ações da Petrobras, na esteira da valorização de dois dígitos dos preços do petróleo, impediu que o Ibovespa fosse tragado pelo ambiente de redução da exposição ao risco que tomou conta dos mercados acionários nesta segunda-feira. Na contramão das bolsas americanas e dos índices europeus, o principal índice da B3 fechou em alta de 0,17%, aos 103.680,41 pontos. O volume negociado foi expressivo, de R$ 27,856 bilhões, inflado pelo giro de R$ 7,576 bilhões do exercício de opções sobre ações.

As repercussões ao ataque a instalações petrolíferas na Arábia Saudita durante o fim de semana provocaram efeitos díspares sobre o mercado acionário doméstico. Lá fora, o petróleo chegou a subir quase 20%, com o corte da oferta após os ataques a refinarias da Saudi Aramco, a maior petrolífera do planeta. Reivindicado por um grupo do Iêmen, o episódio gerou um estresse diplomático entre Estados Unidos e Irã, o que deixou os investidores na defensiva.

A redução de exposição ao risco levou a uma onda vendedora de papéis de bancos, com perdas superiores a 1% de Bradesco e Itaú, e da Vale (-2,41%), também abalada por dados fracos da atividade na China. Fora do grupo das blue chips, as aéreas, cujos custos são diretamente ligados à cotação do petróleo, lideraram as perdas. A PN da Azul caiu 8,45% e a da Gol, 7,77%. No outro lado da gangorra, as ações da Petrobras operaram em alta firme e chegaram, na máxima, a subir mais de 5%.

Em meio aos ganhos da petroleira e as perdas dos bancos, o Ibovespa mostrou instabilidade e alternou ligeiras altas e baixas ao longo da tarde. Na última hora de negócios, com a ação do Itaú perdendo mais de 2% e os papéis da Petrobras reduzindo os ganhos para baixo de 4%, o índice perdeu fôlego e se firmou em terreno negativo. Mas uma reviravolta dos minutos finais, com nova aceleração da alta da petroleira, o índice fechou no azul.

Para o estrategista Jefferson Laatus, mesmo descontado o efeito positivo das ações da Petrobras, o mercado acionário doméstico se comportou bem quando comparado às bolsas no exterior. À espera de mais informações sobre a magnitude do ataque e dos desdobramento geopolíticos, investidores apenas reduziram a exposição ao risco. “Houve uma busca por proteção, mais foi moderada. Existe uma cautela para não realizar movimentações mais bruscas, até porque tem a decisão de política monetária nos Estados Unidos nesta semana”, diz Laatus.

De fato, a disparada dos preços do petróleo aguçou as expectativas em torno da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na quarta-feira, 18. Se de um lado a alta do petróleo pode afetar as expectativas de inflação, de outro aumenta os riscos de desaceleração da economia global, um dos motivos citados por dirigentes do Fed para justificar o mais recente corte de juros.

Por aqui, a alta do petróleo não abalou a confiança do mercado em mais afrouxamento monetário, com os juros futuros espelhando 100% de chances de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual no encontro do Copom na quarta-feira, para 5,50% ao ano – o que, em tese, tende a estimular o mercado acionário.

Segundo analistas, é preciso monitorar se o impacto positivo inicial da alta do petróleo para as ações da Petrobras vai se sustentar. Há dúvidas se a empresa terá autonomia para seguir com sua política de preços e reajustar derivados, por conta da valorização do óleo no mercado internacional. “Vai entrar no radar essa questão da formação de preços, até porque a gente é produtor de petróleo, mas importador de gasolina. Tudo está na mão da gestão da Petrobras. A expectativa é que não haja ingerência política”, afirma Bruno Madruga, responsável pela área de renda variável da Monte Bravo, que trabalha com Ibovespa acima dos 110 mil pontos no fim do ano.

Dólar

Depois de bater em R$ 4,10 pela manhã desta segunda-feira, o dólar teve uma tarde relativamente tranquila, oscilando perto da estabilidade mesmo com o cenário internacional mais adverso, por conta dos ataques a instalações de petróleo na Arábia Saudita, que fez as cotações da commodity subirem quase 15%. Na expectativa por várias reuniões de política monetária de bancos centrais nos próximos dias e dos desdobramentos dos eventos no Oriente Médio, o mercado de câmbio teve uma segunda-feira de poucos negócios. A avaliação é que a alta do óleo não deve afetar por enquanto a redução dos juros aqui e lá fora. O dólar à vista fechou em leve alta de 0,07% a R$ 4,0893.

O dólar subiu em países desenvolvidos e ante a maioria dos emergentes. A exceção foi em regiões exportadoras de petróleo, como Canadá e Rússia, onde a moeda americana caiu. Operadores ressaltam que, pelo fato de o Brasil ser autossuficiente em petróleo, fica menos penalizado pelos eventos no Oriente Médio. Após tocar em R$ 4,10 (+0,40%) na máxima pela manhã, a divisa chegou a cair para R$ 4,07.

“O volume de negócios foi menor e o mercado deve ficar meio morno até quarta-feira”, avalia o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. O Federal Reserve (Fed) inicia sua reunião nesta terça e termina no dia seguinte. Mesmo dia que acaba a reunião do Banco Central do Brasil. Além disso, ele ressalta que os agentes estão observando o que vai acontecer com o petróleo após os ataques no final de semana na Arábia Saudita.

Para o Fed, os estrategistas do TD Bank esperam corte de 0,25 ponto e a sinalização de que este é um “corte de meio de ciclo” e não o início de um ciclo de reduções de juros, fator que pode acabar fortalecendo o dólar. Ao mesmo tempo, a avaliação é que o Fed vai manter as “portas abertas” para futuras reduções, mesmo após a alta de dois dígitos do petróleo.

No caso do petróleo, a avaliação da S&P Global Platts é que a tensão geopolítica no Oriente Médio teve uma escalada para um novo nível e é preciso ver as ramificações. “Não quero guerra com ninguém, mas estamos preparados”, disse o presidente americano, Donald Trump, no final da tarde desta segunda. A Casa Branca disse que a culpa dos ataques é do Irã.

Taxas de juros

A disparada dos preços do petróleo e os possíveis impactos para a inflação não foram capazes de impedir um alívio na curva de juros, com as taxas futuras mostrando recuo da abertura ao fechamento dos negócios. O mercado se apoiou na aposta “dovish” para as várias decisões de política monetária pelo mundo ao longo da semana para retirar prêmios, o que serviu de contraponto ao aumento do riscos geopolíticos após o ataque a campos produtores da commodity na Arábia Saudita. Na última hora da sessão regular, as taxas renovaram mínimas, com os investidores optando por reforçar suas posições antes das reuniões dos bancos centrais em vários países, em especial a do Copom na quarta-feira. A curva a termo já aponta 100% de possibilidade de corte de 50 pontos-base na atual Selic de 6% na reunião do Copom nesta semana, enquanto para o fim de 2019 a precificação está muito perto de 5%.

Nesse contexto, chamou a atenção o volume bem acima da média recente nas taxas curtas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). O DI para janeiro de 2020, que concentra as apostas para a Selic nas reuniões do Copom restantes em 2019, fechou com taxa de 5,225%, mínima histórica, de 5,262% no ajuste de sexta-feira. A taxa do DI para janeiro de 2021 caiu de 5,378% para 5,27%, novo piso histórico. O DI para janeiro de 2023 terminou com taxa de 6,38%, de 6,491% no ajuste anterior, e a taxa do DI para janeiro de 2025 também fechou na mínima, de 6,97%, ante 7,071% no último ajuste.

Além dos encontros do Copom e do Federal Reserve (Fed) na quarta-feira, haverá reunião do Banco Central do Japão, do Banco da Inglaterra e do banco central da Suíça na quinta-feira. “A expectativa é a mesma para todas essas decisões: mais ‘easing’ (afrouxamento) monetário a fim de combater a desaceleração da atividade econômica global e o risco de recessão”, afirmou o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira.

Dados fracos da indústria e varejo na China divulgados domingo à noite também contribuíram para o aumento das apostas em políticas mais estimulativas pelos BCs, a exemplo do que fez na semana passada o Banco Central Europeu (BCE).

Para o segmento de juros, naturalmente a atenção é um pouco maior com a decisão do Copom e, não somente nos Departamentos Econômicos, mas também entre os players, vem crescendo a percepção de que há espaço para a Selic cair abaixo de 5% no fim do ano. A precificação da curva, que na sexta-feira apontava alívio de 75 pontos-base para a taxa básica em dezembro, estava em 85 pontos, o que indica a taxa entre 5% e 5,10%. Os cálculos são do Haitong Banco de Investimento.

Embora o destaque da curva tenha sido a ponta curta, as taxas longas também tiveram queda firme, alinhadas ao movimento de fechamento de taxas em praticamente todo o mundo nesta segunda-feira. Os rendimentos dos Treasuries registraram queda expressiva ao longo de toda a sessão. “O petróleo é inflacionário, mas também afeta o crescimento, e crescimento hoje em dia pesa mais do que a inflação”, diz um gestor.

Fonte: Correio do Povo