Projeção é do presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura e considera dificuldades climáticas no RS
De acordo com dados da Conab, a produção gaúcha de trigo, em 2024, totalizou 4,1 milhões de toneladas, 42,3% a mais do que em 2023 | Foto: Paulo Kurtz/Embrapa/Divulgação/Cp
Pelo terceiro ano consecutivo, o Rio Grande do Sul poderá reduzir a área destinada à lavoura de trigo na safra de 2025. A possibilidade é considerada em razão do alto risco enfrentado pelos produtores nos ciclos de 2023 e de 2024, o alto custo de produção e o baixo preço obtido pela commodity. Além disso, também calcula-se que a importação do grão superará sete milhões de toneladas no país, mais de 13% acima do cogitado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
As previsões foram apresentadas pelo presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura e Pecuária e diretor da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim. O dirigente salienta, no entanto, que a avaliação corre o risco de ser prematura, mas que os indicativos, neste momento, apontam para o cenário cogitado.
“Muito do que vai ocorrer na próxima safra de inverno vai depender da safra de verão. Será que nós vamos ter uma safra boa com o solo apresentando sinais de baixa umidade?” questiona Hamilton Jardim.
Apesar de haver reduzido em 10,6% a área dedicada à triticultura em 2024, o Rio Grande do Sul fechou o ano com resultados melhores, na comparação com 2023. De acordo com dados da Conab, a produtividade chegou a 3.071 quilos por hectare, 59,1% a mais do que no ciclo anterior, somando a produção de 4,1 milhões de toneladas, 42,3% a mais.
Considerando que os números de 2023 foram frustrantes para o setor, em razão de adversidades climáticas, os percentuais elevados de 2024 não chegam a representar uma surpresa. Ainda assim, conforme Jardim, os volumes e a qualidade obtida ficaram “aquém do que gostaríamos que fosse e, inclusive, imaginávamos que fosse. Tivemos, na fase final da colheita, problema de chuva excessiva. Isso fez a produtividade e a qualidade caírem”, comenta o dirigente.
Os resultados apresentaram variação expressiva nas regiões do Estado. No final de novembro, quando a colheita havia atingido 97% da área cultivada, a Emater/RS-Ascar apontava, por exemplo, que as lavouras de Noroeste, Planalto Médio, Centro e Metade Sul ficariam abaixo do projetado em decorrência de chuvas prolongadas, que dificultaram o manejo fitossanitário, favoreceram a proliferação de patógenos e interferiram no momento da colheita. Jardim acrescenta nestes efeitos ainda “a baixa luminosidade” no RS durante a primavera.
“O sol era um sol vermelho, filtrado por muita fumaça dos incêndios da Amazônia, dos incêndios do Pantanal, dos incêndios do Paraguai. Isso fez com que a planta não tivesse muita fotossíntese. Isso se refletiu na produtividade e na depreciação da qualidade”, acrescenta Jardim.
Insumos dolarizados
A desvalorização do real frente ao dólar preocupa os triticultores gaúchos. “Nosso custo de produção é atrelado ao dólar. Nossos insumos são dolarizados. O dólar alto nos remete a um cenário de preços elevados. Dólar alto é bom para quem exporta, mas é péssimo para quem importa. Vamos ter adubo alto”, diz Jardim.
Além dos insumos, Jardim contabiliza o custo de financiamento, com juro atingindo 12% em alguns casos, e, principalmente, a despesa exigida para a garantia da lavoura. Ele destaca o percentual cobrado para a adesão ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), do governo federal.
“Sabe quanto está a taxa do Proagro? Que tem amparo no Proagro paga uma alíquota de 23%”, diz o diretor da Farsul.
Jardim afirma, ainda, que há dois anos solicita uma audiência com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para tratar do assunto.
“O governo não está nem aí. Não está interessado em discutir com o setor”, avalia o dirigente setorial.
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