Análise de roupas atingidas por substância corrosiva no RS é concluída, e polícia deve receber laudo nesta semana

Peritos do IGP receberam cinco peças e realizaram o procedimento nesta terça. Diretor do Departamento de Perícias Laboratoriais afirma que o primeiro laudo, que apontará o que foi usado pelo criminoso, será encaminhado à polícia até sexta-feira.


Casaco com marcas do líquido foi entregue à polícia, para perícia. Suspeita é que se trate de algum tipo de ácido — Foto: Arquivo pessoal

O primeiro laudo da perícia que apontará qual substância foi usada nos ataques com um líquido corrosivo a cinco pessoas registrados em Porto Alegredeverá ficar pronto até o final desta semana, segundo informou o Instituto-Geral de Perícias (IGP). As análises em roupas atingidas foram realizadas nesta terça-feira (25), quando o material chegou até os técnicos.

O primeiro ataque aconteceu no fim da noite de quarta-feira (19), quando um homem de bicicleta jogou o líquido no rosto da primeira pessoa atingida, na Rua Santa Flora, bairro Nonoai. Na sexta-feira (21), em menos de uma hora, foram registrados quatro ataques de carro – dois no local do primeiro ataque e os demais, no bairro Aberta dos Morros.

“As análises foram concluídas hoje. Eram várias vestes, e a partir de amanhã serão redigidos os laudos, digitados, e possivelmente na quinta ou sexta começam a ser enviados para a polícia”, explica o diretor do Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, Daniel Scolmeister.

Scolmeister explica que o IGP adota um sistema no qual, a partir do momento em que o técnico responsável pela perícia assina digitalmente o laudo, o delegado responsável pelo caso imediatamente recebe o documento.

A expectativa é que os demais laudos sejam entregues até o meio da próxima semana. “Mas o primeiro laudo, como é o mesmo procedimento que vai ser feito, já vai basicamente concluir”, afirma o diretor.

Enquanto aguarda o resultado, a Polícia Civil ainda tenta identificar o autor dos ataques. A investigação aponta tratar-se de um homem com idade aparente de 25 anos, e que usou um carro HB20 branco. “Tem vários vídeos, mas em nenhum deles conseguimos identificar o carro”, afirma o delegado Luciano Coelho, um dos que investigam o caso.

As cinco pessoas que foram atacadas – quatro mulheres e um adolescente de 17 anos – prestaram depoimento. O G1 conversou com quatro delas. Confira aqui todos os relatos.

‘Achei que tinha caído meu rosto’

Bruna estava próximo de casa quando foi atacada pelo homem. — Foto: Arquivo pessoal

Bruna estava próximo de casa quando foi atacada pelo homem. — Foto: Arquivo pessoal

Bruna Machado Maia, 27 anos, foi atacada na noite de quarta-feira (19), quando caminhava perto de casa, no bairro Nonoai. Ela teve o rosto e parte do braço queimados.

“Quando eu olhei meu casaco eu me desesperei, já achei que tinha caído meu rosto, já tinha me queimado, feito buraco”, lembra.

Num primeiro momento, a mulher pensou que estava sendo assaltada.

“Esperou eu passar para se aproximar. Ele estava de bicicleta preta. Ele era bem branco, magro, sem barba, sem bigode, sem nada. Não vi cabelo por causa do capuz. Ele estava com um moletom todo branco, calça escura e sapato escuro”.

“Ele falou ‘olha a água’. No reflexo, eu botei a mão e consegui proteger só meu olho, mas no rosto em si, pegou”.

‘Fiquei com muita dor e desnorteada’

Somente na manhã de sexta-feira (21), três mulheres e um jovem procuraram a polícia. Entre elas, Tássia Steinmetz, 33 anos, atacada por volta das 7h20. Ao G1, ela disse que não conseguiu ver o rosto do homem que jogou o líquido.

“Estava indo me exercitar e estava com fones de ouvido. Acho que ele me atacou pelas costas, então não vi nada. Na hora não entendi o que aconteceu. Fiquei com muita dor e desnorteada”, relata.

Tássia não conseguiu ver o rosto do agressor. — Foto: Arquivo pessoal

Tássia não conseguiu ver o rosto do agressor. — Foto: Arquivo pessoal

‘Fiquei apavorada’

Outra vítima atacada na manhã de sexta é Gladis Nievinski, de 48 anos. Ela conta que ia ao trabalho, a pé, quando percebeu que um carro branco havia estacionado, no lado oposto da calçada. “Pensei ‘alguém chegou de Uber’. Uns 50 metros depois, percebi que esse carro veio para o meu lado”, relata.

“Pensei ‘não vou olhar, ele vai falar uma gracinha’. Nisso, senti algo no rosto. Pensei ‘sacana, cuspiu em mim’. Passei a mão e começou a arder”, contou. Seu pescoço e uma parte do rosto foram atingidos pelo líquido, transparente, sem cheiro e com aspecto pegajoso, conforme ela descreve. A substância pegou também em seu casaco. “Ficou estraçalhado”, comenta.

Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço após ataque com líquido corrosivo em Porto Alegre  — Foto: Arquivo pessoal

Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço após ataque com líquido corrosivo em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

‘Por sorte estava com casaco grosso’

Também na sexta-feira, um adolescente de 17 anos foi surpreendido por um homem, também em um carro branco, que lhe arremessou um líquido. Leonardo Fassina Klock conta que, inicialmente, achou que seria assaltado, como pensaram outras vítimas. Ele caminhava até um ponto de ônibus, onde aguardaria um coletivo para ir do bairro Aberta dos Morros ao Centro da cidade.

“Quando ele chegou no meu lado, deu uma freada e estava com o vidro aberto já, era um rapaz só. E ele me arremessou um líquido, parecia um desodorante ou uma pistolinha de água. Quando arremessou, começou a queimar. Meu braço começou a arder e meu rosto meio que ardia. Pensei que era spray de pimenta”, lembra.

“Ele não disse nada, simplesmente abriu a janela e jogou em mim. Uma situação muito estranha, eu fiquei sem entender.”

Leonardo mostra agasalho furado pelo líquido que foi jogado nele em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Leonardo mostra agasalho furado pelo líquido que foi jogado nele em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Fonte: G1