Estudo realizado em parceria do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Emater/RS e produtores mostra a potência do uso de bioinsumos para o plantio de feijão na pequena propriedade
Utilização de bioinsumos na lavoura do feijão, principalmente na agricultura familiar, incrementa rentabilidade, contribuindo para a produtividade e sustentabilidade | Foto: Sebastião José de Araújo / Embrapa / Correio do Povo
Alimento largamente consumido no Brasil, o feijão é uma cultura que exige cuidado e investimento. Para ser produzido de modo mais rentável na agricultura familiar, os bioinsumos são grandes aliados, tanto do ponto de vista da produtividade quanto da sustentabilidade do solo. No entanto, o uso é pouco difundido entre os pequenos produtores, situação que estudos realizados pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), em parceria com a Emater/RS-Ascar, pretendem mudar.
Com a colaboração da Regional da Emater/RS-Ascar de Santa Maria e dos produtores Ângelo Severo e Edenir Schmengler, do município de Agudo, pesquisadores do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor/DDPA) semearam parcelas com duas cultivares da leguminosa denominadas RS Gaúcho (versão atualizada da cultivar de feijão preto Fepagro Triunfo) e RS Centenário (feijão rajado).
O cultivo foi feito em meio hectare de cada propriedade, utilizando um conjunto de bioinsumos composto por um inoculante à base de Tricoderma Harzianum, Tricoderma Asperellum e Bacillus, mais um enraizador à base de algas marinhas, ácidos húmicos e fúlvicos, cobalto, molibdênio e silício. O resultado foi animador, conforme a pesquisadora do Ceflor, Gerusa Sttefens.
Feijão preto
Na variedade de feijão preto, o ganho de produtividade, segundo Gerusa, foi de 198 quilos por hectare (comparado à semeadura tradicional com uso de agroquímicos). Numa parcela semelhante, com uso de químicos, os produtores obtiveram 2.560 quilos de grãos por hectare. No plantio utilizando apenas bioinsumos, foram colhidos 2.753 quilos por hectare. Já na variedade de feijão rajado, o ganho na mesma comparação foi de 158 quilos por hectare, com 1.520 quilos por hectare com uso do pacote e 1.363 quilos sem ele.
“O Brasil é um exemplo mundial no uso de bioinsumos, porém, eles são mais utilizados em grandes propriedades e muito menos na agricultura familiar”, comentou a pesquisadora Gerusa Sttefens.
Gerusa disse que o uso da tecnologia sugerida na pesquisa não impactou apenas na produtividade, com enraizamento mais robusto e plantas com vagens maiores.
“Ele favoreceu a qualidade do solo com uma economia significativa e sem a necessidade de uso de nem um grama de ureia (fertilizante nitrogenado)”, explicou a pesquisadora.
No experimento, foram utilizados 50 quilos de sementes com uma dose de inoculante, suficiente para cobrir um hectare. O preço para este tratamento, é de apenas R$ 15 a dose.
A pesquisadora conta que o experimento será repetido nas mesmas terras para testar novamente o potencial dos bioinsumos e promover a divulgação dos resultados para mais agricultores familiares na região e de outras regiões do Estado. O município de Agudo, lembra Gerusa, foi fortemente atingido pelas enchentes de abril e maio, com áreas de deposição e de retirada de solos.
“Nós percebemos também que houve durante o plantio uma incidência menor de doenças, pois os bioinsumos atuam tanto na fertilidade como no controle biológico”, acrescentou Gerusa.
“É uma estratégia que deve ser cada vez mais divulgada entre os agricultores familiares, para que eles tenham acesso ao uso de ferramentas biológicas que além de elevar a produtividade e reduzir custos, resultem em melhorias à qualidade do solo, das plantas, do ambiente e, principalmente, da qualidade de vida das pessoas”, finalizou a pesquisadora.
Tradição antiga
O desenvolvimento de cultivares de feijão é uma tradição da antiga Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), cujos funcionários passaram a integrar a Secretaria da Agricultura a partir de 2017. Juliano Bertoldo, pesquisador e melhorista da Seapi, esclarece que as duas cultivares aplicadas no ensaio foram trabalhadas no Centro de Pesquisa de Maquiné, no Litoral Norte.
RS Gaúcho (o feijão preto atualizado) e RS Centenário (apresentada em 2022) foram testadas para o incremento de produção com o uso de bioinsumos e comprovaram o bom desempenho sem a utilização de ureia. Mas as cultivares ainda não estão disponíveis para uso do produtor nas lavouras. A variedade Fepagro Triunfo, sim, desde 2013. As que participaram do teste ainda estão em processo de licenciamento. “A Seapi está trabalhando nos trâmites legais para que as duas cultivares cheguem ao mercado”, concluiu.
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