Volume colhido da fruta no Rio Grande do Sul em 2024 deve chegar ao máximo de 130 mil toneladas, o mesmo de 2023, em razão da abundância de chuva e da deficiência de horas de frio, que atrapalharam o desenvolvimento
| Foto: Paulo Lanzetta / Embrapa / CP
Impactada por excesso de chuvas, por período insuficiente de baixas temperaturas e por intervalos de calor extremo no inverno, a safra gaúcha de pêssegos em 2024 deverá, no máximo, ser igual à de 2023. No ano passado, de acordo com a Emater/RS-Ascar, o Rio Grande do Sul colheu 130,8 mil toneladas da fruta, somando as variedades de mesa, destinadas ao consumo in natura, e aquelas para finalidade industrial ou, basicamente, de conserva enlatada.
A projeção foi apresentada por produtores das duas principais regiões que se dedicam à cultura no Estado (e no país), Pelotas e Pinto Bandeira, por fruticultores de Porto Alegre, e confirmada pela Embrapa Clima Temperado, localizada em Pelotas.
Em 2023, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado respondeu por 65,1% da produção nacional de pêssegos, seguido por São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e, com resultados bem mais modestos, Espírito Santo. Os dados do instituto apontam que o percentual da participação gaúcha tem se mantido praticamente o mesmo desde 2020. A previsão era de que a safra de 2024 superaria a do ciclo anterior, mas os fenômenos climáticos ocorridos ao longo do ano afetaram os pomares tanto da Região Sul quanto do Sudeste.
“Teve uma quebra de safra generalizada. Teve quebra em Santa Catarina, teve quebra no Paraná, teve quebra em São Paulo e teve quebra em Minas Gerais. Do Paraná para cima, todos os estados produtores tiveram quebra em função de seca excessiva”, diz a engenheira agrônoma e presidente da Associação dos Produtores de Frutas de Pinto Bandeira (Asprofruta), Rubiane Da Campo Rubbo.
Os efeitos do clima variam entre as regiões e “depende muito do estágio de desenvolvimento da fruta ou da flor”, de acordo com Maria do Carmo Raseira, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado. “Santa Catarina perdeu por geada na flor, em alguns locais”, exemplifica a pesquisadora, que estuda a cultura no Brasil há mais de 50 anos. “É uma paixão”, revela.
Lavoura delicada, o pessegueiro sofre com a falta ou excesso de frio, com a falta ou excesso de calor e também com as variações extremas de temperatura, como tem ocorrido, nos últimos anos, no Rio Grande do Sul. “No início de agosto, tivemos calor. Depois, na metade do mês, foi para próximo de zero. Essa oscilação muito grande, em poucos dias, prejudica a planta, pois não está se aclimatando aos poucos para que venha o frio”, explica Maria do Carmo.
A boa notícia é que os estragos causados pelo clima predominaram sobre as variedades de pêssego consideradas precoces (veja infográfico na próxima página), cujo início de maturação se prolonga até meados de novembro e que exigem um período menor de exposição às baixas temperaturas. As variedades de meia estação e tardias estão preservadas, até o momento. Foram as precoces que mais sofreram com a queda dos termômetros em agosto, como salienta Maria do Carmo. Já os dias chuvosos e os longos períodos de céu encoberto podem comprometer a qualidade da fruta, principalmente o teor de açúcar.
Conforme a pesquisadora, os problemas mais graves foram registrados nos estados produtores do Sudeste. Em Jundiaí (SP), por exemplo, a colheita deveria ter começado no final de setembro, mas assolada pelo calor e pela seca, a exemplo do que ocorreu no Rio Grande do Sul em 2022, sofreu queda de até 70% em algumas propriedades.
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