
O histórico climático do Rio Grande do Sul nos últimos anos faz brilhar na frente dos olhos do produtor rural a palavra “irrigação”. Perdas volumosas especialmente nas culturas da soja e do milho são graves o suficiente para exigir do agricultor a adoção de sistemas irrigados. Mas ainda há resistência, mesmo com a aplicação de um programa público, o Irrigação do RS, que oferece subsídio de até R$ 100 mil para essas iniciativas. Há quase uma década, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) vem fomentando entre os produtores a ideia de que irrigar é garantir mais rentabilidade no cultivo e na rotação de área com outros grãos.
A família Arns, de Uruguaiana, com 40 anos de experiência na produção de arroz, quando o assunto é irrigação, é um exemplo de pioneirismo. Muito antes dos caprichos do clima começarem, no início dos anos 2000, já adotavam a irrigação por pivôs, incomum na cultura (na maior parte irrigado por inundação), mas que viria favorecer a ampliação dos negócios para o plantio multigrãos. Fernando Arns e o irmão Werner Arns Filho, tocam hoje o Grupo Arns junto com o pai, Werner Arns, e se preparam para ingressar no mercado de produção de sementes. Fernando, engenheiro agrônomo, explica que a região onde o empreendimento da família está instalado, na Fronteira Oeste do Estado, tem uma média anual de 600 milímetros de chuva entre outubro e fevereiro. Em anos de La Niña forte, como nas safras de 2021/2022 e 2023/2024, a média de chuvas nesta fatia do território caiu para 180,170 milímetros nos mesmos cinco meses, ou seja, menos de um terço da média.
“Aqui no chão de Uruguaiana, toda a cultura tem de ser irrigada. O consumo de água varia conforme o ano. Num ano de chuvas normais, consumimos 200 mil litros de água por hectare. Com La Niña, vai para 450 mil litros por hectare”, comenta. Segundo o agrônomo, em anos de El Niño, com chuvas abundantes, o consumo de água cai para 80 mil litros por hectare.
Os Arns usam três sistemas de irrigação: inundação, na maior parte dos 1,6 mil hectares plantados com arroz; por sulco-camalhão (para soja e milho); e por pivô central, nas três culturas. Fernando destaca que, atualmente, atendendo recomendações agronômicas do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), se obtém um uso mais eficiente dos recursos naturais.
“Se consegue produzir mais quilos de arroz por hectare”, ressalta, ao revelar que a produtividade do alimento gira entre 10 mil a 10,5 mil quilos por hectare, acima da média estadual, de cerca de 8,4 mil quilos por hectare.
Fernando Arns garante que nas lavouras do grupo tem sido feito um controle maior do uso da água. Na safra 2024/2025, quando a região iniciou o plantio com seus mananciais de água cheios, já com 40% da irrigação do arroz em andamento, a necessidade na irrigação foi de cerca de 11 mil a 12 mil metros cúbicos de água por hectare.
Werner Arns Filho, que divide com o irmão e o pai a gestão do empreendimento, aborda um assunto ainda sensível para os produtores quando precisam decidir por um sistema irrigado. As outorgas da família são antigas e Werner Filho acredita que, hoje, o licenciamento para os projetos estão mais fáceis do que há alguns anos.
“Os órgãos responsáveis pelas licenças têm uma consciência maior da necessidade da água para o produtor”, reconhece.
O empresário revela que o grupo busca fazer o que está ao seu alcance, sem depender tanto de decisões governamentais.
Mesmo atestando que a qualidade industrial do arroz irrigado por inundação é melhor que o grão que recebe água por pivôs centrais, os irmãos Arns decidiram pela instalação da tecnologia para quebrar um paradigma da orizicultura. Fernando diz que por muitos anos as propriedades orizícolas se caracterizaram pela monocultura.
“Isso inviabiliza o negócio. Por isso investimos nos pivôs, para poder transformar nossa propriedade em multicultura”, observa.
Além dos 1,6 mil hectares de arroz, a família plantou nesta safra 50 hectares de soja e outros 100 hectares com milho. Também cultivam o trigo no inverno.
Fernando e Werner ressaltam que apesar de todos os cuidados e com todos os sistemas funcionando, o grupo amargou perdas nas últimas safras em que o Rio Grande do Sul foi castigado pela estiagem. “Nunca vivemos um período tão seco e que tenha demandado tanta irrigação. Mesmo em áreas com pivô, chegamos a perder de 30% a 40% da produção”, completa Fernando.
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