
Nos últimos anos, a Itália vem enfrentando uma crise de mão de obra na saúde, com um déficit superior a 65 mil trabalhadores, entre médicos, enfermeiros e técnicos. Para preencher essas lacunas, hospitais públicos e privados passaram a buscar profissionais estrangeiros, oferecendo remuneração de até 7 mil euros mensais (cerca de R$ 44,3 mil), além de moradia, passagem aérea e cursos de idioma.
A estratégia ganhou impulso após o decreto Milleproroghe, que flexibilizou o reconhecimento temporário de diplomas internacionais. Com isso, médicos e enfermeiros estrangeiros podem atuar de imediato enquanto aguardam a validação oficial de suas formações. As informações são da Veja.
Profissionais brasileiros, em especial, são vistos como mão de obra qualificada, devido à boa formação e ao atendimento humanizado.
As oportunidades não se limitam a hospitais e clínicas: há demanda também em geriatria, casas de repouso, centros comunitários e projetos humanitários. Após dois anos de trabalho, descendentes têm a chance de solicitar a cidadania.
— O Brasil tem profissionais de alto nível, e a Itália precisa urgentemente deles. O desafio é apenas conectar essas duas realidades — afirma Talita Dal Lago Fermanian, presidente da Câmara de Comércio Itália–Brasil.
De acordo com a Gazeta de S.Paulo, há vagas para técnicos de enfermagem com salários mensais de 1.400 a 1.800 euros (cerca de R$ 8,8 mil a R$ 11,3 mil). Para enfermeiros, começa em 1.800 euros (R$ 11,3 mil), podendo chegar a 3.200 (R$ 20,2 mil) se houver especializações. Médicos têm uma média inicial de 4.000 euros (R$ 25,3 mil), chegando a 7.000 (R$ 44,3 mil).
Situação na Itália
A crise no sistema de saúde italiano ocorre em diferentes etapas. Segundo artigo publicado na revista científica The Lancet, a carreira na medicina se tornou menos atrativa, como evidenciado pelo declínio significativo nas matrículas de estudantes em determinadas especializações médicas.
De 15.256 vagas de especialização anunciadas em 2024, 11.392 (75%) foram preenchidas, conforme o jornal italiano Quotidiano Sanità. O número de ocupação cai em algumas das áreas “menos desejáveis”: medicina de emergência (teve 30% de vagas preenchidas), anatomia patológica (47%) e radioterapia (18%).
A falta de profissionais é percebida também na enfermagem. Segundo o Il Sole 24 Ore, existem aproximadamente 400 mil enfermeiros trabalhando na Itália. Esse número é insuficiente em comparação com a necessidade: a escassez é estimada em pelo menos 65 mil, com situações críticas na Sicília e na Lombardia.
“Se, por um lado, a Itália continua exportando recém-formados, por outro, registra um aumento no número de estrangeiros“, pontuou o jornal.
Estratégia contra o envelhecimento populacional
Dentro de um plano mais amplo para enfrentar a falta de trabalhadores, o governo italiano prevê a emissão de quase 500 mil vistos de trabalho até 2028. A medida tenta reverter os impactos do “inverno demográfico”: a população do país caiu para 58,9 milhões em 2024, reflexo do envelhecimento acelerado e da queda na natalidade.
No entanto, o cenário é complexo. Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou uma mudança na Lei da Cidadania, restringindo o reconhecimento automático para descendentes de até duas gerações nascidas fora da Itália. A medida, votada com 137 apoios e 83 contrários, limita o acesso à cidadania jus sanguinis, antes garantida sem restrições de gerações.
Outro entrave é a burocracia. Em 2023, dos 130 mil vistos ofertados, pouco mais da metade obteve autorizações preliminares, 29% chegaram a ter documentos emitidos e apenas 13% resultaram em contratos. No fim, só 7,5% conseguiram residência efetiva. Em 2024, os índices seguiram praticamente os mesmos, indicando que o desafio persiste — somado ainda à predominância de contratos temporários, que dificultam a permanência regular dos estrangeiros no país.
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