Polícia Civil abriu inquérito e apura casos em Porto Alegre e mais quatro cidades gaúchas; “Eu chorava e tremia”, lembra consumidora ao se deparar com o achado no produto
O material estranho encontrado por consumidores dentro de embalagens de molho de tomate da marca Fugini foi identificado como um fungo, de acordo com o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen). O caso ganhou repercussão em dezembro, quando pessoas encontraram um conteúdo, que se assemelha visualmente a pele de um animal, no interior da embalagem. Os casos, registrados em pelo menos cinco cidades gaúchas, seguem sendo investigados pela Polícia Civil, que aguarda laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Conforme o Lacen, cinco amostras de molho de tomate, que chegaram em embalagens fechadas ao laboratório, foram avaliadas.
“Todas tiveram resultado satisfatório para as análises microscópicas de pesquisa de matérias estranhas e contagem de filamentos micelianos (fungos)”, disse a instituição em nota.
O laboratório não informou o que pode ter causado o problema e se há possíveis riscos ao consumidor que tenha consumido o produto sem perceber a contaminação.
O IGP também faz análises do material recebido. Segundo o instituto, será feito exame anatomopatológico, para tentar identificar se trata-se de um tecido, como restos de animal, ou uma colonização por fungos. Ainda não há previsão de data para o resultado.
Na polícia
A Polícia Civil informou que aguarda os laudos do IGP para avançar na investigação. Até o momento, ao menos três casos foram registrados pela polícia em Viamão e há também ocorrências em pelo menos mais quatro cidades: Porto Alegre, São Leopoldo, Sapiranga e Dois Irmãos. Em Viamão, a compra dos produtos que continham o material estranho ocorreu em estabelecimentos distantes um do outro, que não integram a mesma rede de supermercados. Conforme as denúncias recebidas, o problema foi constatado tanto em embalagens pequenas do produto quanto nas grandes, de 1,7kg.
Consumidores que voltarem a encontrar o material estranho devem entrar em contato com a polícia para registrar o fato. Informações e denúncias pode ser obtidas e feitas pelo telefone e WhatsApp da 1ª Delegacia de Viamão, no número (51) 98444-0606.
Ao longo das últimas semanas, as equipes ouviram depoimentos de consumidores e comerciantes, e também fizeram contato com a Fugini, que tem sede na cidade de Monte Alto, no interior de São Paulo. À polícia, a empresa teria dito que o material encontrado por consumidores gaúchos seria fungo formado dentro de embalagens que teriam microperfurações. A mesma informação chegou a ser divulgada em rede social pela fabricante do produto.
A Fugini não retornou as tentativas de contato feitas por GZH nesta terça-feira (21), nem em outras oportunidades. Pedidos de entrevista e informações vêm sendo dirigidos à empresa desde o dia 27 de dezembro passado, quando o caso se tornou público, sem retorno.
“Parecia uma cartilagem, eu chorava e tremia”, lembra consumidora
Moradora de Sapiranga, Sirlei Maria Altmayer, 75 anos, lembra com indignação da experiência traumática pela qual passou em dezembro. Ela conta que chegou a consumir o produto, em uma receita que preparava no dia 22 de dezembro.
— Eu cortei só a pontinha do sachê para usar um pouco, dar uma cor na comida. Vi que saíram umas bolinhas quando virei, mas achei que era o tomate. Aí guardei na geladeira. No outro dia, fui usar de novo, apertei a embalagem mas não saia nada de dentro. Aí cortei toda a parte de cima, para abrir bem. Quando virei no prato, caiu aquela coisa. Parecia uma cartilagem, uma pele. Lembro que peguei na mão para ver, era como um pedaço de algum bicho.
A aposentada rumou direto para a delegacia, para fazer registro, mas foi orientada a ir ao Procon do município do Vale do Sinos. Ela levou consigo a embalagem e o conteúdo estranho.
— A policial na delegacia olhou com uma cara de nojo e disse: “Só pode ser rato”. Foi algo horrível. Ela me disse para ir no Procon. Fui caminhando sem conseguir controlar o choro e a ansia de vômito. Você não faz ideia do que senti naquele dia, eu chorava e tremia. As pessoas aqui me conhecem, passavam por mim e perguntavam o que tinha acontecido. Mas eu não conseguia responder, só chorava. Foi muito ruim, até por eu ter consumido um dia antes.
Sirlei afirma que contratrou um advogado e entrou com processo na Justiça contra a empresa, por danos morais. Ela relata que o episódio estragou as festas de fim de ano e que, até hoje, não consegue comprar produtos em sachê:
— Não consegui comer no Natal nem Ano-Novo. Parecia que eu enxergava aquilo na minha frente o tempo todo. Não consigo consumir de nenhuma marca mais, eu mesma faço meu molho de tomate. Não compro mais nada em sachê, tenho medo até do leite agora.
Em Sapiranga, ao menos dois casos foram registrados e relatados ao Procon local, que determinou que estabelecimentos comerciais retirassem o lote do produto de circulação. Acionada pela Polícia Civil, a Vigilância em Saúde de Viamão também fiscalizou a situação de produtos da mesma marca em estabelecimentos comerciais no município.
Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br
Comments Closed