
Criados por volta do início da década de 1940, sendo o primeiro o 2,4-D, atualmente os herbicidas hormonais são ponto de tensão entre diferentes cadeias produtivas em parte do território do Rio Grande do Sul. Quando a pulverização dessas substâncias químicas começou a ultrapassar as cercas das propriedades rurais tornaram-se centro de uma grande controvérsia. De um lado estão os produtores rurais que defendem o uso para combater as ervas daninhas com a sua aplicação no solo. Em situação oposta, os agricultores das culturas sensíveis alegam que a deriva deste tipo de defensivo, por conta da ação do vento, traz prejuízos às frutíferas e hortaliças.
Os herbicidas hormonais imitam a ação da auxina, um hormônio vegetal que regula o crescimento celular das plantas. “Há todo um processo que vai sendo desencadeado dentro da planta, interferindo no desenvolvimento normal dos tecidos, desequilibrando-os e levando a sua morte”, explica o pesquisador na área de Agronomia com ênfase em Plantas Daninhas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja), Dionísio Gazziero. Com o decorrer do tempo, o herbicida “hormonal fake” tornou-se um insumo agrícola de uso amplo no Brasil. Sua aplicação ocorre nas culturas do café, cana-de-açúcar, arroz, milho, milheto, trigo, sorgo e soja, por exemplo. As substâncias combatem as plantas daninhas que competem por luz, água e nutrientes nessas lavouras. “Trata-se de um produto antigo, que está há muito tempo no mercado, quando as exigências para disponibilizar para comercialização, do ponto de vista toxicológico, não eram tão rígidas como as de hoje”, pontuou.
Conforme Gazziero, os motivos para o avanço desses agrotóxicos de controle das ervas daninhas em todo o Brasil “agrícola” atendem à relação custo versus eficiência e à eventual preferência dos produtores rurais pela técnica agronômica do plantio direto. A modalidade se caracteriza pela ausência de revolvimento do solo, mantendo a palhada (restos da cultura anterior) sobre a superfície, com o objetivo de conservar a umidade e proteção da terra. “É um sistema conservacionista”, esclareceu.
Contudo, segundo o pesquisador, os herbicidas hormonais vêm passando por reavaliações periódicas no país, pois mesmo sendo produtos antigos continuam no mercado porque têm condições para utilização. Gazziero ressaltou que, à medida que o tempo passa, as revisões das substâncias também ficam mais rígidas.
“Quero destacar que os herbicidas hormonais desempenham um papel muito importante que é o de ajudar no controle de plantas daninhas, inclusive no sistema de plantio direto. Não é só para a soja, mas para um conjunto de culturas. Vivemos em condições tropicais, onde temos muita chuva e os nossos solos são frágeis”, acrescentou, referindo-se às vantagens do plantio direto como opção de manejo.
Em um país onde o solo precisa ser protegido e a produtividade do agronegócio é prioridade, o herbicida hormonal se tornou prática comum e, quase, indispensável. Dionísio Gazziero, ressaltou, porém, que o uso deve ser feito de forma cautelosa, avaliando também alternativas como o manejo integrado de ervas daninhas por meio de uma série de técnicas que ajudam na solução do problema. “Não de substituição da mesma forma, com todos os benefícios de custo e eficiência, mas existe alternativa sim”, confirmou. Ele recorda que, quando os grãos transgênicos começaram a ser utilizados, a exemplo da soja, acarretando maior dependência do glifosato, houve um desestímulo na busca de novos produtos, tanto em termos de tempo como de investimento.
“Agora que estão começando a surgir novos produtos no mercado e mantemos uma expectativa que possam ser de fato opções para controlar algumas espécies (daninhas) importantes que só o 2,4-D ou seus similares conseguem”, explicou.
O pesquisador da Embrapa Soja relembra que após o lançamento da soja transgênica, por volta dos anos 2000, começou a ser observado o desenvolvimento de uma comunidade de plantas daninhas bastante complexa. “Biótipos na natureza de espécies resistentes a alguns tipos de produtos, como o glifosato (herbicida não hormonal), fazendo reduzir a sua eficiência, enquanto o 2,4-D ajudava o agricultor no controle dessas plantas daninhas”, elucidou.
Sobre práticas e técnicas alternativas que possam se somar à ação de novos produtos diferentes dos herbicidas hormonais da década de 40, Gazziero chamou a atenção para o manejo correto e realizado durante todo ano nas áreas onde o agricultor pretende plantar.
Entre as possibilidades, estão a rotação de culturas, a rotação de mecanismos de ação de herbicidas e o controle de banco de sementes no solo. Um plano de ação que deve ser executado pelo produtor, talhão por talhão.
“Um processo técnico que nós temos informação suficiente no Brasil para melhorar tremendamente este quadro”, defendeu, reforçando que o país pode ensinar outras nações do ponto de vista de manejo das culturas e áreas.
Para o pesquisador, há uma necessidade premente de que sejam encontradas soluções técnicas e regulatórias que garantam a produtividade e a rentabilidade no campo sem prejuízo mútuo entre as culturas de grãos e aquelas consideradas sensíveis, em virtude da deriva de herbicidas hormonais. Segundo ele, produtores rurais de café, cana-de-açúcar, arroz, milho, trigo e soja, por exemplo, dependem dessas substâncias químicas que imitam a auxina e sua ação.
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