
Um gesto de gratidão fez com que um empresário e artista gaúcho mobilizasse dezenas de pessoas para doar sangue. Graças às amizades que fez enquanto atuava junto a jovens carentes, Gelson Eduardo da Silva Bento, de 53 anos, conseguiu que dezenas de amigos e conhecidos fossem ao Banco de Sangue do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Gelson ou Gel, como é conhecido no mundo do samba e do ativismo negro, começou a sentir fortes dores nas costas há cerca de dois meses.
Foi até um Posto de Saúde da Família e logo transferido para uma Unidade de Pronto Atendimento em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre. Lá, um exame mostrou a queda na contagem de plaquetas e a necessidade de uma transfusão. No procedimento, foram usadas as duas últimas bolsas de sangue compatíveis com o tipo sanguíneo dele, disponíveis no hospital.
“O médico disse que se alguém não tivesse doado esse sangue antes, eu não teria sobrevivido”, relembra Bento.
Com o agravamento do diagnóstico de câncer de medula, Gel foi transferido para o Clínicas no dia 10 de julho. Iniciou-se então uma campanha nas redes sociais para conseguir doadores. Veio gente de Viamão, Canoas, Taquara, Guaíba e Gravataí. Um compadre que ele não via há 30 anos mandou foto doando.
“Acho que é um retorno pelo que fiz na vida, e uma forma de agradecer o tratamento que recebi aqui no Clínicas”, ressalta.
Gel é músico e líder comunitário. Como percussionista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), deu aula por quase 15 anos no galpão de reciclagem da Vila Bom Jesus. Junto com o poeta, intelectual e militante negro Oliveira Silveira, foi um dos fundadores do Grupo de Expressão Afro Omodua, dando aulas de dança e capoeira para crianças em vulnerabilidade social. E ainda fundou a Escola de Samba Nação Unida.
Até agora, 73 pessoas vieram ao Banco de Sangue desde o início de agosto e 55 puderam concretizar a doação. O número ideal de doações diárias no HCPA é 80, mas em média são realizadas 40. Apenas três bolsas de sangue, cada uma com 300 ml, foram usadas no tratamento do Gelson.
O excedente de 52 bolsas foi usado em outras pessoas. Como cada bolsa pode beneficiar até quatro pacientes, pode-se afirmar que até duzentos foram tratados com o sangue doado por quem participou da campanha.
O chefe do Serviço de Hematologia do HCPA, Leo Sekine, torce para que os amigos do Gel se transformem em doadores regulares de sangue – homens podem repetir o gesto a cada três meses, e mulheres, a cada quatro. Atualmente, os tipos A- , O – e O + estão com os estoques críticos.
Como somos um hospital de alta complexidade, precisamos de sangue para procedimentos como transplantes e cirurgias. A quantidade de doadores costuma diminuir nos feriados e férias, mas a nossa necessidade é contínua, afirma ele.
O Banco de Sangue do Hospital de Clínicas funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, e sábado, das 8h às 12h. É possível agendar a doação no site do Clínicas.
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