O árbitro de um torneio de futsal, em Caxias do Sul, na serra gaúcha, foi obrigado a interromper uma partida, na noite de terça-feira (26), após perceber que um menino de 13 anos era vítima de injúria racial. O caso é investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) do município.
A mulher suspeita de chamá-lo de “macaco safado”, segundo testemunhas, conseguiu sair do local após torcedores tentarem impedi-la. Mas ela foi denunciada pelos pais do garoto, que registraram um boletim de ocorrência.
O jogo era válido pelo Campeonato Citadino na categoria sub-13. O América, time do adolescente que sofreu injúria racial, enfrentava o time da UCS.
Já no segundo tempo, a cerca de seis minutos de acabar o tempo normal, o árbitro assinalou uma falta. Um representante do América, que estava no banco de reservas, diz ter escutado a tia de um jogador da UCS gritar em direção ao jovem: “Tira esse macaco safado de quadra”.
Ele contou ao G1 que pediu à mulher que repetisse o que havia falado, mas que ela teria insistido nas ofensas.
“Mesários, comissão técnica, reservas, todos ouviram. Chamei o árbitro e avisei. A mesária confirmou, e a partida foi interrompida. Não sei se ela tem distúrbio ou não, mas repetiu. Outros familiares dela, acho que estavam embriagados, me xingaram também”, contou.
O árbitro decidiu informar o pai do adolescente ofendido. O nome da vítima e dos familiares foram preservados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca).
“Mesmo no calor do jogo isso não pode acontecer, não pode. Eu fiquei emocionado (…) Ele estava chorando, e aí complicado, muito complicado”, lembra o árbitro Cristiano Costa.
Nesse momento, segundo o representante do América, a agressora tentou sair do ginásio, mas a torcida tentou impedir, o que gerou um princípio de confusão.
Na quadra, o menino assistia a tudo de longe, aos prantos, ao lado da mãe, que entrou para dar apoio ao filho.
“Procurei passar segurança, que a gente estaria ali para o que ele precisasse. Que erguesse a cabeça. É algo que acontece. Até na Europa”, disse a mãe.
“Mas a gente nunca pensa que vai acontecer com a gente, e ainda mais com uma criança.”
Segundo a delegada que investiga o caso, Thaís Norah Postiglione Peteffi, a mulher apontada pelas testemunhas como autora das ofensas será chamada para depor.
Apesar da interrupção, o jogo prosseguiu e o América conquistou o título da categoria.
“Não comemoraram muito como gostariam. Ficaram meio murchos na hora de bater foto. Estava um clima pesado”, descreveu a mãe.
“Fiquei impotente na hora. No mundo que a gente está vivendo, com tanta publicidade, tanta divulgação sobre esse absurdo. Ainda mais com crianças. Nunca tinha visto uma barbaridade dessas. Já ouvimos a juízes, mas nunca a crianças. Foi impactante para os pais que estavam lá.”
O adolescente sempre conviveu no meio futebolístico. Ele acompanha o pai em torneios amadores e nos estádios de futebol. A mãe comenta que o filho ficou impressionado com os casos de racismo na Europa. Quando Taison foi ofendido, na Ucrânia, ou Balotelli, na Itália, ele correu para contar aos pais.
“Ele lamenta. Sabe o sentimento daquele preconceito. Fica triste de ver.”
Nesta quinta-feira (28), os times se encontram novamente para a semifinal de outro torneio. Os mesmos jogadores se encontrarão, e o menino estará em quadra, já que é um dos titulares.
“Tem bastante vontade, velocidade. É um dos mais competitivos. Um menino tranquilo. Não é de falar muito, mas interage com os colegas”, diz o representante do América.
A mãe garante que irá apoiar mais uma vez, e espera vê-lo brilhar, sem nenhum rancor com o ocorrido dois dias atrás.
“Conversei bastante com ele sobre esse assunto. Pedi para ter calma, se concentrar, não ficar brabo. As crianças não têm culpa”, resume.
A Universidade de Caxias do Sul informou que reforça o repúdio a qualquer forma de preconceito e se solidariza com a vítima e sua família. E acrescenta que a torcedora não poderá frequentar os jogos durante todo o ano que vem.
Fonte: g1.globo.com
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