Fato ocorreu em fevereiro do ano passado. Desde lá, a menina já foi internada nove vezes e realizou 15 cirurgias devido a sequelas no cérebro e no sistema cardiovascular. Polícia Federal investiga o caso.
Bebê já foi internado nove vezes desde que nasceu — Foto: Arquivo pessoal
O bebê que, mesmo vivo, foi atestado como morto quando nasceu, será transferido de Santa Maria, na Região Central, para o Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, para realizar uma cirurgia de urgência, conforme uma decisão da Justiça Federal do Rio Grande do Sul. O hospital confirmou que está aguardando a chegada da criança.
A menina nasceu em fevereiro do ano passado no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Desde lá, ela já foi internada nove vezes e realizou 15 cirurgias devido a sequelas no cérebro e no sistema cardiovascular.
Na manhã desta sexta-feira (21), uma médica do Husm informou a Justiça que o transporte do bebê foi autorizado pela Central de Leitos e que uma UTI móvel virá dos municípios de Santana do Livramento ou Dom Pedrito.
O juiz federal João Batista Brito Osório emitiu a decisão da transferência da menina na madrugada desta sexta. No documento, ele relata que, diante da grave situação, determinou que a servidora de plantão contatasse hospitais aptos a realizarem o procedimento, mas que nenhum informou a possibilidade de internação da criança.
Conforme o documento, o próprio juiz então contatou diretamente o médico cardiologista Fernando Luchese, Diretor do Hospital da Criança Santo Antônio, solicitando que encontrasse uma solução para possibilitar o encaminhamento da menina. O médico atendeu o pedido e informou que abriria a vaga em UTI pediátrica a partir das 8h30min desta sexta.
Desde agosto deste ano, o bebê está na unidade pediátrica do Husm. Na segunda-feira (17), a 3ª Vara Federal de Santa Maria emitiu uma decisão de que ele fosse transferido ao Hospital Moinhos de Vento. Conforme o documento, os custos deveriam ser pagos pelo Estado do Rio Grande do Sul.
Porém, o hospital informou por meio de petição que não tinha condições de receber a paciente por não dispor de leito na CTI Pediátrica. “Os 10 leitos de CTI Pediátrica estão ocupados, e no momento não há perspectiva de alta para os pacientes lá internados”, declarou a instituição.
Procurado pela reportagem, o hospital acrescentou que “um procedimento cirúrgico com essa complexidade requer cuidados especiais em unidade intensiva”.
Bebê vivo teve atestado de óbito
Segundo a família, os médicos atestaram que a criança nasceu sem vida após uma cesariana de emergência. “Disseram para mim que tínhamos perdido ela”, lembra o pai Marcos Renato dos Santos Cézar, que trabalha como borracheiro. A família entrou com um processo contra o hospital e a Polícia Federal está investigando o caso.
O atestado de óbito chegou a ser feito, informando que o bebê havia sofrido óbito fetal, sofrimento fetal agudo, deslocamento prematuro de placenta e hipertensão gestacional. Os familiares contam que a menina foi levada pela equipe do hospital e, seis horas depois, uma médica chamou a família para dizer que a criança poderia estar viva, o que de fato se confirmou.
“Eu fiquei feliz que a minha filha estava viva. E depois eu senti muita raiva, porque eu fiquei pensando: ela ficou esse tempo todo sozinha? Só enrolada em um paninho? Sem nenhum equipamento? Prematura? Com 1.600 kg, morrendo de hipotermia? Eu podia ter enterrado a minha filha viva”, afirma a mãe da criança, Tieli Martins.
O pai classifica a situação como “pesada”, e conta que chegou a verificar o que seria necessário para o enterro da criança.
O HUSM diz que o bebê nasceu em parada cardiorrespiratória e que foram feitas todas as manobras de reanimação, com tempo até maior do que o recomendado, e no momento a criança não reagiu, o que motivou a constatação do óbito fetal.
A criança, então, foi levada para uma sala anexa ao bloco cirúrgico e horas depois voltou a apresentar sinais vitais. Imediatamente, foi encaminhada para a UTI neonatal.
A família registrou ocorrência na polícia. O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) vai abrir uma sindicância pra investigar o que aconteceu.
“Uma criança que nasce sadia de parto normal merece atenção. Um prematuro, atenção redobrada”, afirma o delegado interino do Cremers Santa Maria, João Alberto Larangeira.
Fonte: g1.globo.com
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