Detectar o câncer de mama nos estágios iniciais é primordial para elevar as chances de cura e garantir tratamentos menos invasivos
Os tratamentos para câncer de mama evoluíram consideravelmente nas últimas décadas, resultando em melhores taxas de sobrevivência e qualidade de vida | Foto: Freepik / Divulgação / CP
A detecção precoce do câncer de mama é essencial para aumentar as chances de cura. Quando a doença é diagnosticada nos estágios iniciais, como nos estágios 0 ou 1, a taxa de sobrevida em cinco anos pode atingir 90%, e, em casos muito localizados, esse índice ultrapassa 95%, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). No entanto, mesmo com esses avanços, muitas mulheres ainda evitam realizar exames de rotina, o que atrasa o diagnóstico e, de acordo com projeções do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil deve registrar quase 74 mil novos casos de câncer de mama entre 2023 e 2025.
Os tratamentos para câncer de mama evoluíram consideravelmente nas últimas décadas, resultando em melhores taxas de sobrevivência e qualidade de vida para as pacientes. As opções de tratamento incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal e terapia alvo. Cada vez mais, tratamentos cirúrgicos conservadores estão sendo adotados, enquanto mastectomias são reservadas para casos específicos
Larissa Oliveira de Aquino, mastologista da SBM, explica que o câncer de mama é uma doença multifatorial, ou seja, não possui uma única causa. Fatores como idade, histórico reprodutivo, comportamento, ambiente e predisposição genética influenciam no aumento do risco. A menarca precoce e a menopausa tardia são indicadores de maior exposição ao estrogênio, que estimula o crescimento de células mamárias atípicas. “Após a menopausa, o tecido adiposo se torna a principal fonte de estrogênio, elevando o risco em mulheres com excesso de peso ou obesidade”, explica
Na prevenção do câncer de mama, hábitos de vida saudáveis, gerenciamento do peso e a prática regular de atividades físicas são medidas que devem ser incentivadas. Campanhas de conscientização, como o Outubro Rosa, também disseminam informações sobre a doença, seu diagnóstico e tratamento, além de ajudar a desestigmatizar o câncer de mama como uma condição crônica que pode ser tratada e, em muitos casos, curada.
Segundo a médica radiologista Morgana Trindade Pacheco, entrevistada pelo Bella Talks, pela jornalista Camila Souza e a estagiária Brenda Rosa, apenas 10% dos tumores de mama estão relacionados a fatores genéticos. “Isso significa que 90% das mulheres estão expostas aos mesmos riscos, independentemente de histórico familiar. Todo mundo precisa se cuidar, mas para quem tem uma história importante de câncer na família, é fundamental seguir uma rotina de exames e consultas”, explica.
Realidade no Brasil
Atualmente, no Brasil, uma em cada oito mulheres pode desenvolver a doença, e a projeção para 2040 é ainda mais preocupante: uma em cada quatro. No entanto, em países com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde a cultura da prevenção está mais enraizada, as mulheres tendem a buscar atendimento mais cedo, o que aumenta as chances de um diagnóstico precoce e eficaz. “Aqui no Brasil, infelizmente, muitas mulheres chegam tarde para o diagnóstico porque não existe uma conscientização sobre a prevenção”, afirma a radiologista.
Aquino enfatiza que o estilo de vida tem uma relação direta com o risco de desenvolver câncer de mama. Hábitos saudáveis são fatores protetores, enquanto o tabagismo, sedentarismo e consumo excessivo de álcool podem contribuir para o desenvolvimento da doença. “A conscientização sobre prevenção e diagnóstico precoce precisa ser ampliada”, ressalta.
As recomendações das sociedades médicas, como as de mastologia, radiologia e ginecologia, são claras: toda mulher deve realizar uma mamografia anual a partir dos 40 anos de idade até os 75. Caso a expectativa de vida seja superior a 5 ou 7 anos após os 75, o rastreamento anual deve continuar. “Mesmo com o exame agendado no SUS [Sistema Único de Saúde], muitas pacientes não comparecem. Muitas vezes, elas alegam outras prioridades, falta de sintomas ou histórico familiar. Precisamos continuar reforçando que a prevenção é a melhor forma de controlar a doença”, reforça Pacheco.
O papel do autoexame e da mamografia
Pacheco destaca que, embora o autoexame das mamas seja uma forma para que as mulheres conheçam melhor o próprio corpo, ele não substitui a mamografia. “O autoexame é importante para que a mulher reconheça possíveis alterações, como áreas endurecidas, mas o ideal é detectar o tumor antes que seja palpável. Isso só é possível com a mamografia, que deve ser feita anualmente a partir dos 40 anos”, explica a médica.
A radiologista também ressalta os principais fatores de risco para o câncer de mama, com base em estudos de longa duração. Entre os mais relevantes estão o sedentarismo, a obesidade e o consumo excessivo de álcool. “A obesidade é um fator de risco crítico porque a gordura corporal produz estrogênio, o que aumenta a chance de desenvolver o câncer de mama. Além disso, a falta de atividade física e o consumo frequente de álcool elevam os níveis de estrogênio no sangue, agravando esse risco”, alerta.
Para Morgana, a prevenção começa com a adoção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta rica em frutas, verduras e fibras. “As fibras, além de protegerem o intestino, ajudam a reduzir os níveis de estrogênio na corrente sanguínea. Uma alimentação equilibrada, com pelo menos duas porções diárias de frutas e verduras, pode fazer uma grande diferença na prevenção.”
Ela também aborda a importância dos exames regulares para o diagnóstico precoce. “No Brasil, muitas mulheres ainda não têm a cultura da prevenção. Isso resulta em diagnósticos tardios, quando a doença já está em estágio avançado. Nos países desenvolvidos, a conscientização é maior e as pacientes chegam ao consultório mais cedo, o que aumenta as chances de cura.”
Sobre a diferença entre os métodos de rastreamento, Pacheco esclarece que a mamografia é o exame mais indicado para detectar o câncer de mama em fases iniciais. “A mamografia detecta tumores pequenos, que ainda não são palpáveis, e tem uma precisão muito alta. Já o ultrassom é usado para complementar a mamografia em casos que precisam de uma análise mais detalhada. Juntos, esses exames podem identificar até 96% dos casos de câncer de mama.”
A radiologista reforça que, com o aumento da conscientização e a realização de exames preventivos, o número de diagnósticos em estágios iniciais poderia ser muito maior. “Atualmente, uma em cada oito mulheres vai desenvolver câncer de mama, mas se seguirmos com um acompanhamento regular, é possível detectar e tratar a doença em suas fases mais iniciais, com chances de cura acima de 90%”, conclui.
Pesquisas do câncer de mama
Conforme Aquino, atualmente, a pesquisa em câncer de mama se concentra no desenvolvimento de novas drogas-alvo e terapias específicas para os mecanismos de replicação tumoral, visando minimizar os efeitos colaterais e melhorar a qualidade de vida das pacientes. As perspectivas futuras apontam para um tratamento cada vez mais individualizado e multidisciplinar, com foco na modificação dos fatores de risco comportamentais.
Nos próximos anos, espera-se um avanço contínuo na qualidade dos exames de rastreamento e no acesso a eles, promovendo diagnósticos precoces e tratamentos menos agressivos. Com uma melhor compreensão dos tipos moleculares da doença, os tratamentos poderão ser mais específicos, permitindo uma abordagem integral para cada caso de câncer de mama.
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