Notícias

Com perdas já no milho, falta de chuva acende alerta para novos danos na agricultura do RS

Prognósticos indicam que dezembro deve ser o período mais crítico da escassez hídrica, com episódios de estiagens isoladas em algumas regiões do Estado

Lavoura na localidade de Monte Alvão, em Chiapetta, no Noroeste, apresenta envelhecimento das folhasCarlos Tamioso / Arquivo Pessoal

Pelo terceiro ciclo seguido, a condição climática já altera a produção de milho no Rio Grande do Sul. As dimensões das perdas ainda são preliminares e difíceis de mensurar enquanto a cultura está em desenvolvimento, mas já dão indícios de uma nova safra com estragos.  

A combinação de tempo seco, chuvas irregulares e temperaturas altas em período crucial para etapas como a floração e o enchimento de grãos das espigas é a maior preocupação no setor. O nível do alerta é “de amarelo para vermelho”, define o diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri. Perdas esparsas já são registradas em áreas na metade Oeste do Estado.

— É um ano de distribuição bem desuniforme de chuvas. No que afeta a produção, temos bolsões de chuva e outros bolsões com falta dela. É difícil dizer uma região específica. Mas, com o passar dos dias, a tendência é esses bolsões irem se ampliando — diz Rugeri.

Presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS) e produtor do grão em Chiapetta, na região de Ijuí, Ricardo Meneghetti diz que há relatos de agricultores já acionando o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).

 — Quando chega ao ponto de requisitar o seguro, é porque deu uma perda grande. Mas é um mosaico bem interessante. Tem regiões com bastante prejuízo, outras com alguns e outras ilesas — relata Meneghetti. 

Especificamente para o milho, o problema é o avanço das áreas com dificuldade hídrica, que começam em pequenos pontos e vão se expandindo. Nesse sentido, o grão se difere da soja porque tem um período curto e crucial em que necessita de chuva, enquanto na soja esse intervalo é mais alongado, conforme o diretor-técnico da Emater.

— O agricultor vem usando estratégias de produção, mas o milho tem tido dificuldade nas três últimas safras, pelo menos, e num período-chave do desenvolvimento da planta — completa Rugeri.

A condição da cultura daqui para frente depende dos próximos dias. Se voltar a chover e a temperatura ficar amena até a próxima semana, algumas lavouras prejudicadas ainda podem produzir alguma quantidade do grão. Do contrário, o estrago pode ser grande. 

Outra preocupação é em relação à qualidade do grão colhido. As lavouras de milho já vêm com produtividade menor por causa dos ciclos anteriores. O impacto disso se repetirá mais à frente, com menor oferta para a indústria. O milho é o principal componente da ração animal e a sua falta no mercado tem reflexos no preço do frango e do leite, por exemplo.   

— Infelizmente, acho que vamos ficar devendo para a indústria o nosso milho gaúcho em quantidade suficiente para abastecer — projeta o presidente da Apromilho-RS. 

O acompanhamento meteorológico da Secretaria da Agricultura, feito pelo Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), indica que a chuva está abaixo dos níveis esperados nos três últimos meses do ano, confirmando a persistência do La Niña.  

Na avaliação do meteorologista e coordenador do Simagro-RS, Flávio Varone, o quadro alerta para as chamadas estiagens isoladas, principalmente onde os problemas de escassez hídrica são velhos conhecidos, como a Metade Sul, a Fronteira Oeste e a Campanha. 

Dezembro de atenção 

De acordo com o sistema de meteorologia da Secretaria da Agricultura, a expectativa é de que o período mais crítico da falta de chuvas no Rio Grande do Sul seja o mês de dezembro. A partir do fim do ano, deve haver um alívio com maior distribuição das precipitações em janeiro.

— O nosso verão sempre é preocupante. Acredito que o maior problema que vamos enfrentar seja em dezembro, um mês para termos bastante cuidado. Já as projeções para janeiro mostram alguma condição de chuva — diz Varone, do Simagro-RS. 

Quanto aos calorões, que no campo tem o efeito de dificultar a absorção da água pelo solo, já que a chuva evapora rapidamente, o meteorologista diz que a sequência prolongada de dias tórridos enfrentada no verão de 2022 não deve se repetir.

— Não temos, por enquanto, previsão parecida ao que tivemos em janeiro passado, com a condição de calor intenso e extenso como tivemos – tranquiliza Varone. 

A previsão é de que o La Niña comece a perder força no início do ano. O fenômeno climático de resfriamento das águas do Oceano Pacífico tem efeito mundial e está diretamente relacionado a episódios de secas e de inundações em diversas regiões.  

Até que a atmosfera se estabilize novamente, a condição de normalidade deve voltar somente a partir do outono de 2023. Isso não quer dizer, ainda, que haverá um novo quadro de estiagem prolongada no Estado, como a que ocorreu este ano e que levou a perdas históricas na agricultura gaúcha.

Fonte: gauchazh.clicrbs.com.br

About Rádio Cidade

No information is provided by the author.

Comments Closed

Comments are closed. You will not be able to post a comment in this post.