Fósseis foram encontrados em 2003, em Dilermando de Aguiar, mas só agora a material foi atribuído a um grupo de animais que, tanto pode ser de parentes mais próximos dos dinossauros como da linhagem ancestral dos animais.

Estudo liderado por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA) da UFSM, e publicado na quarta-feira (28) no periódico Journal of South American Earth Sciences, descreve um conjunto de fósseis, datados em mais de 237 milhões de anos, entre os quais se reconheceu uma nova espécie do grupo dos silessauros, considerado chave na evolução dos dinossauros.
“É um grupo que, até então, não tinha sido recuperado em camadas tão antigas de nosso registro”, explica Flávio Pretto, paleontólogo do CAPPA que liderou o estudo. “Os dinossauros mais antigos que temos no Brasil têm por volta de 233 milhões de anos, mas sempre suspeitamos que pudesse haver algo nas camadas subjacentes.” Pesquisadores da Unipampa também participaram do estudo.
O animal encontrado, que em vida teria cerca de 1,5 metro de comprimento, foi batizado de Gamatavus antiquus. A espécie foi reconhecida com base em um dos ossos do quadril, característico de um grupo de dinossauromorfos conhecidos como silessauros.
“O ílio foi o que nos deu o melhor sinal de parentesco com os silessauros. Ele possui características dinossaurianas típicas, como uma ampla área onde se fixava a musculatura posterior da coxa do animal. Mas, ao mesmo tempo, possui características primitivas coo um acetábulo fechado. O acetábulo é a área onde o fêmur se articula com o quadril.”
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De acordo com Pretto, originalmente, os silessauros eram considerados os parentes mais próximos dos dinossauros, mas não dinossauros verdadeiros. Nos últimos anos, entretanto, ganhou força a hipótese de que os silessauros sejam a linhagem ancestral de um grupo de dinossauros chamados Ornitísquios, que inclui parte das formas herbívoras.
“Nosso trabalho testou o Gamatavus nas duas hipóteses, e ambas são igualmente plausíveis até o momento. Se Gamatavus for um dinossauro de fato, ele passa a ser o mais antigo do Brasil, e um dos mais antigos do mundo. Se não for um dinossauro, e sim um parente próximo, isso é igualmente interessante, significa que podemos achar dinossauros da mesma idade”, explica Pretto.

Os fósseis foram encontrados durante as obras de ampliação da BR-158, na localidade de Picada do Gama, em Dilermando de Aguiar, e foi depositado no cervo científico do Laboratório de Estratigrafia e Paleobiologia da UFSM. O nome escolhido para batizar a espécie vem do local: Gamatavus antiquus significa “o antigo tataravô do Gama”.
“Na época, por ser um material fragmentário, não recebeu muita tenção, e pela maior parte dessas duas últimas décadas ele ficou dentro de uma gaveta. Foi só quando nossa equipe fez uma visita àquela coleção que vimos o material de fato”, afirmou Pretto.
A expectativa dos paleontólogos é retornar ao sítio em 2023. “Pretendemos no começo do ano que vem refazer os passos da expedição feita pelos colegas em 2003, e tentar achar o ponto exato onde foram coletados os materiais originais de Gamatavus. Onde há um fóssil, existem grandes chances de haver mais. É só uma questão de tempo até acharmos novas evidências”.

O pesquisador destaca que a descoberta do Gamatavus abre uma nova frente na busca pelos primeiros dinossauros, 4 milhões de anos antes do que as evidências apontavam até o momento.
“Sejam silessauros dinossauros ou não, são linhagens muito intimamente relacionadas. Além disso, esse achado estreita as relações de fauna entre a América do Sul e a África. No Triássico, essas faunas eram muito similares, pois os continentes estavam unidos.”
Fonte: g1.globo.com
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