Nos últimos quatro anos RS perdeu mais de 1,1 mil leitos do SUS

Clínica, pediatria e cirurgia são as áreas mais afetadas com a redução. UTI foi único setor a ter acréscimo na oferta.

O Rio Grande do Sul perdeu, nos últimos quatro anos, mais de 1,1 mil leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), aponta levantamento feito pela RBS TV com base na Lei de Acesso à Informação. Ambulatório, cirurgia e pediatria são algumas das áreas mais afetadas pelos cortes.

Os números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) apontam que foram fechados, entre dezembro de 2015 e dezembro de 2019, 439 leitos clínicos, 361 cirúrgicos e 362 na área pediátrica. O único crescimento foi registrado em unidades de terapia intensiva (UTI), com 18 leitos novos.

“O grande culpado é a questão do financiamento da saúde. Temos que garantir recursos para hospitais conseguirem se manter com portas abertas com esse dinheiro. Atualmente, a tabela do SUS acaba virando uma obra de ficção”, diz Eduardo Trindade, presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers).

O Ministério da Saúde informou que, em 2019, habilitou 55 novos leitos em oito unidades hospitalares do Rio Grande do Sul, zerando a lista de pedidos de habilitação pendentes para o estado.

Redução de leitos no RS

LeitosDezembro/2015Dezembro/2019Diferença
Clínicos9.2198.780– 439
Cirúrgicos4.7584.397– 361
Pediátricos2.5562.194– 362
UTI1.5181.536+ 18
-1.144

Fonte: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)

O SUS paga, para uma cirurgia de retirada de vesícula, por exemplo, R$ 447. Para uma cesariana, R$ 395,68. E uma consulta médica sai por R$ 10. Para tentar se manter, os hospitais recorrem a emendas parlamentares e auxílio financeiro dos governos.

Os hospitais que estão reduzindo leitos são aqueles que dão atendimento de baixa e média complexidade. Nessas duas categorias, não precisam de equipamentos sofisticados e caros.

Alguns não suportaram a crise financeira, as dificuldades de pagar as contas e foram obrigados a fechar as portas. Entre eles, o hospital Parque Belém, na Zona Sul de Porto Alegre. Ele era referência no atendimento de Traumatologia e Neurologia, e tinha uma ala destinada a internação de dependentes químicos e de álcool. No total, chegou a oferecer 300 leitos e UTI.

Para o Ministério da Saúde, a redução e substituição dos leitos hospitalares pela atenção ambulatorial e domiciliar é uma tendência mundial. “Além disso, parte da diminuição de leitos hospitalares gerais se deu pela redução dos leitos em hospitais psiquiátricos, chamados manicômios, a partir da implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para cuidar da saúde mental”, informou, por nota.

O metalúrgico Tarcício Mella mora em Três de Maio, no Noroeste do estado, e está com a filha Kemily, de sete anos, internada em estado grave na Santa Casa de Bagé desde 22 de dezembro por complicações de uma pneumonia. Nos últimos dias, o quadro se agravou, e uma bactéria comprometeu o funcionamento dos rins da menina.

“A gente tenta se agarrar de tudo que é lado. É uma vergonha a nossa saúde. A gente chora de se arrepiar de ver uma criança no estado que ela está, sofrendo por nossa saúde precária, precária mesmo”, reclama Tarcício.

Ela precisa ser transferida para Porto Alegre e, sem leitos, a saída encontrada pela família foi ingressar com um pedido na Justiça. Nesta segunda-feira (20), ela conseguiu ser transferida para o Hospital Santo Antônio, na Capital.

“Resolvido eu só confio quando estiver lá mesmo”, diz o pai. “O caso dela é gravíssimo, está bem avançado”, acrescenta.

Fonte: https://g1.globo.com/rs/